terça-feira, 8 de março de 2011

40 anos da Luta do Século

Joe Frazier e Muhammad Ali (solo) / (Foto: AP Photo)


Há exatos 40 anos os americanos Muhammad Ali e Joe Frazier protagonizavam a “Luta do Século”

Após se recusar a lutar na Guerra do Vietnã pelos E.U.A em um ato de protesto contra os parcos direitos dos negros em seu país, Muhammad Ali foi afastado por um ato de “politicagem” nefasta do esporte que lhe deu fama e ao mesmo tempo que foi extirpado do título mundial dos pesados tendo seu último combate em 1967 no ápice de sua forma física.

Até regressar em 1970, o mundo já conhecera um novo rei, “Smokin'” Joe Frazier, lutador da Filadélfia de poucas palavras, pegador e técnico. Quando Ali retornou aos ringues o encontro era inevitável, afinal, dois campeões mundiais invictos. Os titãs colidiram no dia 8 de março de 1971.

Muhammad Ali era uma figura polêmica, amigo do líder negro Malcolm X que defendia uma segregação entre negros e brancos – postura que mudou antes de sua morte – o boxeador de Louisville, Kentucky assumira o nome islã deixando para trás Cassius Clay, como havia sido batizado. Era uma ameaça aos Estados Unidos da América conservador e castrador como os Beatles e outros expoentes da contracultura.

Joe Frazier tinha uma aceitação melhor dentro da visão racialmente preconceituosa dos E.U.A, era um “negro do bem”, e certos poderosos o viam como um “capitão do mato” pronto para abater o “nego fujão”. Na verdade Frazier não servia nenhum outro poder além de sua vontade de ser o melhor e conquistar glória nos ringues além de poder ajudar seus entes queridos como tantos homens de origem humilde.

Mas o retorno de Ali também foi muito bem aceito por outros grupos, inclusive membros da elite de visão progressista. O seu treinador no período, o lendário Angelo Dundee lembra ao repórter da ESPN americana Kieran Muivaney que “a arena estava repleta de humanidade. Joe Frazier podia andar pela plateia que não era incomodado, mas meu atleta não tinha sossego e eu disse para Drew Brown (amigo e conselheiro de Ali): 'Volte para o hotel e traga todo equipamento que puder, vamos ficar aqui'. Não deixamos a arena mais”. No passado a pesagem era feita na manhã do dia da luta.

“Todo mundo importante estava lá”, lembra o veterano repórter Bert Sugar que na época era editor da tradicional revista Boxing Illustrated. A luta foi o evento esportivo de 1971. O cantor Frank Sinatra tirou fotos para a revista Life, o ator Burt Lancaster foi comentarista especial para um canal pago e a cantora Diana Ross sentou próxima de Sugar.

Mesmo não tendo o apoio da torcida, Frazier entrou como favorito em 7 para 5 e detinha o título mundial, mas no começo do embate a vantagem foi para o “Maior de Todos” Muhammad Ali que provocava o adversário com seu estilo bufão que encantou o mundo e é imitado até hoje em diversas áreas.

Entretanto, mesmo com as micagens, os gritos e risos da plateia, Frazier vinha numa fase de lutas boas e se mostrou uma verdadeira força no ringue consolidando seu nome com a atuação daquela noite.

Os ganchos de esquerda de Frazier no corpo e cabeça colocaram Ali nas cordas. “Deus quer que você perca”, declarou Ali em um instante e ouviu a resposta do algoz: “Avise seu deus que ele está na casa errada esta noite”.

As lutas iam naqueles tempos até o 15º assalto diferente de hoje que para preservar os atletas duram no máximo 12 giros. No 11º round a imagem que chocou o mundo, Joe Frazier derrubou o mito. Ali até se recuperou mais voltou a lona na última etapa da luta.

A vitória veio para Frazier por decisão unânime dos jurados e manteve seu título mundial. Ambos protagonizaram mais dois embates que foram vencidos por Ali. A rivalidade de ambos foi maior do que as rodadas de boxe e hoje é difícil lembrar de um sem mencionar o outro.