quarta-feira, 23 de março de 2011

Entrevista com Letícia Candal

Letícia Candal / (Foto: Arquivo Pessoal)


A brasileira Letícia Candal, 31, disputará o título feminino dos meio-médios da Women's International Boxing Association contra a sua dona Jessica Balogun, 22, da Alemanha no país da rival no dia 2 de abril. Assim como tantos pugilistas do país de Éder Jofre, Candal (6-1-0) encara o desafio com um currículo menor e tendo a oponente como favorita, entretanto, há uma diferença dela para seus colegas.

A carreira da curitibana foi construída em solo espanhol, tanto que poucos falam de seu nome na imprensa local e até mesmo especializada. Esse fato nunca a preocupou, e ao invés de buscar atenção da imprensa usando a beleza prefere manter seu foco nos ringues e em sua vida pessoal. Letícia conta um pouco de si e de seu grande desafio frente a Balogun (18-1-0, 8 KO's) ao Córner do Leão.


Como foi seu ingresso no boxe? Antes treinou outra modalidade?

Comecei a treinar muay thai com 14 anos de idade na academia Chute Boxe em Curitiba, minha cidade natal, aos 20 anos me graduei faixa preta com o mestre Rafael Cordeiro.
Quando cheguei na Espanha recomecei os treinos muay thai, onde tive oportunidades participar de lutas do próprio muay thai, kickboxing e mais tarde conheci meu treinador de boxe, Patrick Rubes, que me chamou para iniciar uma carreira no pugilismo, pois achava que eu tinha grandes qualidades como boxeadora.

O que a levou a deixar o Brasil?

Eu e meu marido saímos do Brasil em busca de novos conhecimentos e oportunidades, viemos para Tennerife , nas Ilhas Canárias na Espanha, por ser um lugar de praia e com um ótimo clima além de ter altas ondas onde poderíamos surfar que é uma de nossas paixões. O lugar nos conquistou e aqui construímos nosso lar. Mas pretendemos daqui uns anos voltar para o Brasil.


Como tem sido sua preparação para encarar Jessica Balogun?

Estou me preparando há três meses, nos quais tenho me dedicado a correr todos os dias, musculação como complemento, muito saco e manoplas, exercícios técnicos e muito, mas muito sparrings, sempre com atletas experientes e sempre homens.

Balogun tem um currículo mais rodado que o seu. Tem receio de ser vista como escada pela rival e promotores do evento?

Pode ser que seja essa a intenção dos promotores, mas eles vão se surpreender! Eu não tenho nada a perder e vou agarrar essa oportunidade com unhas e dentes.


O que ficou de lição após sua única derrota que foi para Myriam Chomaz?

Essa derrota foi devido a um impacto da cabeça da Myriam contra meu rosto, já no primeiro assalto, o que ocasionou um grande inchaço debaixo do meu olho, mais adiante no início do quinto assalto meu olho estava fechado e o médico decidiu parar a luta dando a vitória a Myriam Chomaz, até esse momento eu estava ganhando por pontos.

Nessa mesma luta, no segundo assalto,outro impacto abriu o supercílio dela, mas o promotor do evento que era o mesmo de Myriam, pediu pro médico seguir o combate.

A experiência foi muito grande, pois lutar em outro pais, na casa do adversário, com TV ao vivo, tendo que baixar muito de peso me trouxe conhecimentos os quais me ajudaram a ser a atleta que sou hoje.

Pouco tem se falado na imprensa brasileira e até mesmo na voltada para lutas sobre seu desafio pelo título da WIBA. O que sente ao pensar nisso? O Brasil respeita seus atletas?

Quero ir e ganhar, não me importa se a imprensa fala ou não fala, isso não mudará o meu objetivo. Como não moro no Brasil a quase 8 anos e iniciei minha carreira com mais frutos aqui na Europa, estou acostumada a não ver noticias minhas na imprensa brasileira. Em qualquer lugar conseguir viver do esporte é difícil, mesmo na Espanha, onde tenho que conciliar o trabalho com os treinos.

Como é o tratamento para as boxeadoras na Espanha?

O boxe feminino em geral é muito difícil, não tem muitas mulheres e poucas são as oportunidades, ainda mais sendo estrangeira, pois tem alguns títulos que não podem ser disputados como Espanhol, ou Europeu, o que serve de gancho para mundiais, por exemplo.

A beleza ajuda uma pugilista nos bastidores do esporte?

Acho que o importante é a atuação no ringue, mas o cuidado com a aparência sempre é importante, pois a imagem ajuda a passar uma boa impressão, assim como a humildade, respeito e boa educação dentro e fora dos ringues.