Edvan Batista do Nascimento / (Foto: Arquivo Pessoal)
No meio dos futebolistas há a figura do “amigo de boleiro”,
um chegado que funciona como faz-tudo do astro dos gramados ou até mesmo de
jogadores de 2ª divisão. No boxe também é normal ver seus astros cercados por
companheiros que são mais que assessores sendo o mais notório Drew Bundini
Brown que foi treinador assistente e córner do grande Muhammad Ali de 1963 até
sua última luta em 1981. Antes havia trabalhado com o também lendário Sugar Ray
Robinson. Escreveu muitos dos poemas que Ali recitava antes dos combates e
neles colocava a frase “voe como uma borboleta e pique como uma abelha, suas
mãos não acertam o que seus olhos não veem”.
Nas academias eles são figuras constantes, até porque de
certa forma trazem um novo clima aos treinos e quebram o estereótipo do Bad-boy
que alguns insistem em interpretar. Nas sessões ministrados pelo ex-campeão
mundial Miguel de Oliveira com seu assistente João Cardoso na academia Companhia
Athletica no bairro do Brooklyn em São Paulo também há um personagem peculiar
que serve de alívio cômico e conselheiro aos amigos, Edvan Batista do
Nascimento.
Pele morena, cabelos crespos, uma barriga um tanto saliente,
olhos grandes e firmes. Mesmo sem querer acaba chamando atenção no restaurante
da academia conceituada tanto que é cumprimentado por quase todos com um simpatias
e brincadeiras, e sendo recíproco parece o prefeito de lá. Na mesa também está
Oliveira, seu professor que tem uma personalidade contida que demora a se
soltar e até se contrasta com o estilo do aprendiz. ~
Pouco após Oliveira deixar a mesa, outro amigo chega e nos cumprimenta,
olhos verdes claros quase azuis e fixos dá um aperto de mão forte para cada. Começam
a falar de suas rotinas de trabalho, Edvan tem agenda corrida e na maior parte
do tempo está de roupa social, já o amigo de traje esportivo é Álvaro José,
jornalista com carreira reconhecida e muitas coberturas de Olímpiadas em
grandes emissoras.
“Esse aqui é o que criou o ‘Princeso’”... Álvaro solta um
riso contido que vira uma breve gargalhada: “esse negócio pegou na academia,
quando me mostraram no site não acreditei. Até falei pro (Raphael) Zumbano
notificar o jornalista, mas quando fui ver ele já estava pedindo votos. “Princeso
Zumbano Love”. O comentarista esportivo ri mais um pouco e depois se despede partindo para
outra mesa.
Na conversa falamos de sua atuação nas redes sociais. Após o
já clássico brasileiro combate de Jackson Jr. e Pedro Otas, Edvan jogou lenha
na fogueira falando que Alexsandro “Pit” Cardoso é melhor que ambos e que ele
mesmo os derrotaria juntos no ringue. As equipes destinaram muitas mensagens
indignadas ao fanfarrão e questionando suas habilidades no tablado.
Outro alvo de seu ácido virtual é o cidadão de Miami,
Michael Oliveira. Questiona sua competência no ringue e não admira como expõe
seus carros e bens em um país tão desigual.
“O Edvan é um personagem dele mesmo, é uma figura”, destaca
Sérgio Cardoso, colega de treinos. “Este é um personagem dos bastidores do
boxe”, conta Fernando Abramovay, outro parceiro de trocas de golpes que segura
um saco com gelo contra o olho esquerdo.
“Já ouviu falar do troféu ‘Zumbaninho’?”. “Não, o que é
isso?” – indago Edvan. A risada sai com naturalidade e seus olhos viram para o
alto: “É a premiação que fiz em ‘homenagem’ ao nosso amigo para o pior da
academia”. Outro rapaz de laranja ruboriza e solta com voz tímida: “logo mais
passo esse título pra outro”. Já estamos no treino e Edvan todo de negro,
calção, camiseta e tênis.
João Cardoso ri disfarçadamente e desvia o olhar, um pouco
depois aponta que o amigo ajuda pessoas do meio pugilístico, mas que é tímido e
não gosta de falar. Edvan desvia o assunto: “tá vendo aquele pesado ali? Tem que
ser ele meu sparring, porque o resto não aguenta”, o empresário do ramo de
construção aponta para um homem de 30 e poucos anos, quase 1,85m e mais de 100
kilos. É notável que sua felicidade vem da auto-estima.
O maior cruzador de todos os tempos e tetra-campeão dos
pesados Evander Holyfield, é o maior ídolo de Edvan nos ringues. Tanto que o
apelidaram ou ele se auto denomina “Edvander Holyfield”. Suas brincadeiras são
mais fruto da citada elevada auto estima e fanfarronice do que arrogância, há
uma linha tênue que separa os dois comportamentos, mas ela não é cruzada – na maior
parte das vezes –.
Muhammad Ali teve na amizade de Bundini Brown um conforto
para os dias tristes e ainda mais ânimo nos alegres. Zumbano Love encontrou o
seu “Bundini Brown” em “Edvander” Batista do Nascimento.
Bruno (KLB), Zumbano Love e Edvander / (Foto: Arquivo Pessoal)