terça-feira, 17 de julho de 2012

Documentário "The Fight - American Experience"

Max Schmeling (esq.) e Joe Louis (dir.) / (foto: reprodução)

Em um córner um homem negro e o sistema democrata americano no outro um branco e o regime nacional socialista alemão, porém além de lutadores e rivais os lendários Joe Louis (1914-1981) e Max Schmeling (1905-2005) se tornaram heróis, campeões mundiais de boxe, membros do Hall da Fama, e donos de uma das mais belas amizades.

No documentário The Fight - American Experience (2005) de Barak Goodman produzido pela americana PBS, os pugilistas tem um perfil traçado antes da luta e pós luta além de uma paralelização de suas realidades sócio-político econômicas. Ambos eram reflexos e prisioneiros do mundo envolto na 2ª Guerra Mundial.

No primeiro encontro no ringue em 1936 do lendário estádio dos Yankees, time de baseball de Nova York, Joe Louis foi nocauteado no 12º assalto de uma luta programada para 15 rounds. Uma direta no corpo seguida por outra na mandíbula, e assim Louis foi à lona. O europeu afirmara saber como derrubar o americano que foi neutralizado no embate.

Louis foi um pugilista negro em uma sociedade de homens brancos, tinha um comportamento guiado de maneira que não incomodasse os padrões conservadores, a antítese do primeiro negro campeão de boxe peso pesado ou em qualquer esporte, Jack Johnson.

Johnson fizera seu nome quase duas décadas antes, saia com mulheres brancas e humilhava os homens brancos dentro e fora do ringue em uma sociedade segregacionista. Com este panorama os reguladores do boxe na época dificultaram a ascensão de pugilistas negros, mesmo assim o talento de Louis se sobressaiu. Perder para Schmeling era como ver seu castelo ruir.

Schmeling era um boêmio da cosmopolita Berlim da década de 1920 e grande nome do pugilismo europeu, migrou para os EUA no final da década e conquistou o cinturão mundial após um golpe baixo do local Jack Sharkey. Quando regressou ao seu país, o regime nacional socialista, o nazismo, já estava implantado.

Schmeling acabou se tornando peça publicitária do Ministro de Propaganda Joseph Goebbels, porém este mesmo quando o pugilista foi enfrentar Louis não fez muito alarde temendo a derrota para o negro que era tido como favorito e estava em rota de disputar o cinturão mundial.

Para Louis após a derrota foi imposto o manto da vergonha, era apontado como "fraude" por algumas publicações, enquanto Schmeling era o herói de seu povo, porém o vencedor não se sentia confortável em tal condição dado que tinha amigos judeus, homossexuais e estrangeiros.

Em 1938 veio a revanche, Louis já era campeão do mundo e faria a defesa diante de Schmeling no mesmo Yankee Stadium em Nova York diante de 70 mil fãs e milhões escutando pelo rádio. Louis disparou 41 socos acertando 31, enquanto Schmeling apenas dois, a luta terminou por nocaute no 1º assalto.

Após o combate ambos se tornaram amigos, tendo Schmeling pago as despesas do funeral de Louis que viveu na pobreza após o governo americano cobrar-lhe impostos mesmo coletando boa parte das suas bolsas do tempo de lutador. O alemão mostrara repulsa ao regime de Adolf Hitler sendo que no ano do segundo embate arriscara sua própria vida para salvar duas crianças judias.

The Fight - American Experience (Em Inglês)



Imagens da PBS