terça-feira, 28 de agosto de 2012

Entrevista com Kelson Pinto

Kelson Pinto e seu filho Kauan / (foto: reprodução)

Reconhecido por nomes do mundo das lutas como o tetracampeão Acelino "Popó" Freitas e o campeão dos pesados do UFC Junior "Cigano" dos Santos, Kelson Pinto, teve carreiras respeitáveis como pugilista amador e profissional e vem crescendo como treinador de boxe.

Disputou os Jogos Olímpicos de Sidney, Austrália em 2000, perdendo na segunda luta, mas foi prata no Pan-Americano de Winnipeg em 1999. Estreou como profissional com nocaute no 1º assalto há 12 anos atrás, e dividiu ringue com o porto-riquenho Miguel Cotto seis anos depois. Cotto o venceu, e ficou com o cinturão mundial da Organização Mundial de Boxe (OMB), mas Pinto deixou uma marca de respeito no quadrilátero.

Kelson Pinto, conhecido como "Fera", saiu do profissionalismo com 24 vitórias, 22 por nocaute e duas derrotas. Em entrevista ao Córner do Leão fala das experiências como amador e profissional, o trabalho como técnico de boxe para pugilistas e lutadores de MMA em Florianópolis e a necessidade de trabalhar com crianças.


Fale da sua temporada na seleção brasileira: 

Foi uma ótima experiência, conheci vários países e pessoas diferentes. Entrei na seleção em 1996 até 2000 nesse tempo fui campeão nos Jogos Sul-Americanos em 98 no Equador, onde fui consagrado o melhor atleta da América do Sul, daí por diante foram muitas viagem e muitas vitórias e muito trabalho..Em 99 fui prata no Pan-Americano em Winnipeg, depois veio a tão sonhada classificação para as olimpiadas de 2000 em Sidney, no mesmo ano passei para o profissional estreando no México.

Lino Barros, Marcelino Novaes, Kelson Pinto e Claudio Aires no Pan de Winnipeg 1999 / (foto: arquivo pessoal)

Nas seleções há o ambiente de grupo e no profissionalismo o atleta é mais isolado. Como lidou com estas duas situações?

Sim, como o nome já diz "seleção", temos que conviver em grupo, gostei muito e aprendi bastante, foram muitas viagens, muita concentração, alojamentos... No profissionalismo é um pouco diferente, o ritmo de lutas é menor, tem mais tempo pra treinar, estudar o adversário, o que na seleção não tinha como.

Como foi trabalhar com a Golden Boy Promotions?

Foi bom, trabalhamos em uma das maiores empresas do boxe mundial, sai algumas vezes com Oscar de la Hoya para almoçar, jantar. Foi uma fase muito boa.

"... culpamos aos promotores do Brasil que ao invés de promover nosso boxe fora do país, eles querem só ganhar umas gorjetas"

Como é visto o boxeador brasileiro no exterior?

Sempre foi mal visto, isso culpamos aos promotores do Brasil que ao invés de promover nosso boxe fora do país, eles querem só ganhar umas gorjetas, porque o que eles ganham só é apenas gorjetas. Temos bons atletas aqui no Brasil, a prova disso é o MMA,os maiores campeões são brasileiros, vou fazer uma pergunta a vocês, porque o MMA pode e o boxe não? Temos que fazer a carreira dos atletas. 


Kelson Pinto (esq.) e Miguel Cotto (dir.) / (foto: reprodução)

Em 2004, você enfrentou o duro pegador porto-riquenho Miguel Cotto que o bateu por nocaute técnico no 6º assalto. Como foi esta experiência?

Eu estava muito bem preparado, fiquei um mês treinando em Big Bear (Califórnia, nos EUA), com ótimos sparring, treinando muito forte,estava muito confiante, afinal, eu iria lutar pela terceira vez com o Cotto, a primeira no profissional. Mantive o peso durante muito tempo, acredito que foi um erro e que me prejudicou na luta, pois depois da pesagem não recuperei o peso e lutei bem abaixo do meu peso normal. Enquanto Cotto, dois dias antes da luta, faltava perder 4 kg.

Kelson Pinto (esq.) e Miguel Cotto (dir.) em 2004 / (foto: AP)

Os combates lhe deixaram sequelas psicológicas e/ou físicas?

Sim, fiquei com problema na fala, mas não posso dizer se foram dos combates, pois fiz vários tipos de exames e não deu nada.

Thiago Tavares (esq.) e Kelson Pinto (dir.) / (foto: reprodução)

Hoje você atua como professor de boxe para lutadores de MMA. Acredita que os professores de boxe vão migrar pro MMA ou que vão conciliar nos dois esportes?

Acredito que vão conciliar, vou falar por mim que trabalho com os dois, dou aula em projeto social para formar atletas no boxe e estou treinando uma equipe de MMA, aos atletas Thiago Tavares, Kevin Souza, Santiago Ponzinibb, Ivan Batman, Tirlone, Márcio Lyoto, Alexandre Cidade e outros, pois é um esporte que está em alta no momento.

O que agrega ao técnico de boxe o fato de treinar atletas para o octógono?

O esporte está em alta e a procura é grande, portanto devemos aproveitar essas oportunidades.

Territorialmente a região sul é próxima da Argentina e muitos destas terras se apresentam lá. Como é o assédio dos empresários argentinos sobre os lutadores daí?

Não tem assédio, a não ser quando o atleta começa a se destacar.

Quais são as diferenças do boxe em Florianópolis para eixos como São Paulo e Bahia?

A diferença é que São Paulo e Bahia tem muitos atletas e muitas competições, logo o atleta se prepara melhor para grandes campeonatos.

Fale do seu trabalho com projetos sociais:

Comecei a trabalhar com projetos sociais em 2008 no Rio de Janeiro no centro de treinamento da Team Nogueira, levei dois atletas para o Brasileiro em 2009,onde um foi bronze e o outro foi vice campeão. Em 2010 fui para Sergipe e criei um projeto social Resgatando com os Punhos e com 6 meses de treinamento fiz um campeão brasileiro e outro medalhista de bronze. Hoje continuo trabalhando com projetos sociais em Florianópolis no Instituto Thiago Tavares na comunidade da Coloninha e Pró-Casa em São José, onde já temos um campeao brasileiro cadete 2012.