Mike Tyson / (Foto: Ag. Internacionais)
As cortinas se abrem, um homem negro de porte avantajado, careca e com tatuagem no rosto aparece caminhando em direção à plateia o corpo se aquece como se fosse enfrentar Lennox Lewis ou Evander Holyfield para vingar as derrotas do glorioso recorde, mas desta vez Mike Tyson vem para enfrentar à si mesmo, desta vez sem os calções negros, mas com humor e terno sem gravata.
Tyson iniciou na última sexta-feira (13/04) seu monólogo Undisputed Truth (Vitória Incontestável) em Las Vegas, um ambiente no qual vive e conhece tanto quanto sua Nova York de origem, e vem para exorcizar seus demônios e mostrar que hoje pode rir deles junto com seus fãs.
"Oh cara, o que estou fazendo aqui?", pergunta Tyson, um tanto nervoso logo ao entrar. "Bem vindos à minha sala de estar. Quis fazer este show para vocês me entenderem melhor, nas minhas próprias palavras."
Tyson não esquece do documentário do amigo e diretor James Toback em 2009 que leva seu nome e foi exibido no festival de Cannes. O ex-pugilista afirma que a peça tinha "muita merda pesada" e nesta noite ele quer algo mais leve como sua personalidade atual. Virou vegetariano e afirma ter largado o vício pela cocaína, um dos motivos principais por sua derrocada.
A infância de pequenos crimes que lhe renderam internações em reformatórios juvenis, a mãe prostituta e o pai suposto cafetão lhe assombram e entram em cena, mas também lembra do pai pustiço, Cus D'Amato, seu treinador que já idoso via em Tyson sua motivação para seguir vencendo. Tyson se tornou o campeão mais jovem da história dos pesados ao conquistar a cinta com 20 anos.
"A única coisa que eu pensava naquela época era em ser uma lenda, mal dormia à noite. Não importava quantas lutas eu ganhasse, sempre sentia medo, chorava antes das lutas. Me sentia um covarde. Até hoje me sinto". De um delinquente Cus o ajudou a transformar o jovem negro em uma lenda que marcou não só o boxe, mas a sociedade.
Para colocar humor ele canta o refrão de "Another One Bites the Dust" do Queen com alguns passos de dança. Não é um ator preparado com ensaios é a sinceridade de sua rusticidade e seu carisma em assumir suas falhas que conquistam a empatia dos presentes.
Há 20 anos foi condenado por estupro. "Deveria ter pago pelas muitas humilhações e dores que causei às mulheres, mas esse (crime) eu não cometi". Muitos homens envolvidos com a área de Direito e conceituados quando avaliam o caso acreditam haver um jogo de interesses para tirá-lo de cena da sociedade segregacionista dos EUA.
O casamento com Robin Givens e seu fim também atinge a plateia. Após o divórcio continuaram se vendo até que Tyson a esperando fora de casa a viu chegando com um jovem loiro e perfil de estrela hollywoodiana, era um então desconhecido Brad Pitt. "Fiquei emocionalmente abalado. Percebi que naquela noite não faríamos sexo".
Hollyfield também é mencionado junto com a morida. Tyson lembra que hoje são amigos, a rivalidade começou nos tempos de amadorismo, o homem oriundo de Catskills em Nova York fala que hoje são amigos e até trocam mensagem de celular.
No palco, meio que sem perceber, ele coça partes íntimas, como se conversasse com amigos do bairro ou nas academias. O telão mostra imagens de sua tatuagem no rosto e como ela virou camisetas e outros produtos.
No final após agradecer e apresentar a banda de músicos que o acompanha ele de um jeito meio tímido como o do menino que acabara de sair do reformatório pergunta: "Como fui, gente? Estava suando como um porco de nervoso", e é aplaudido de pé. Tyson ri com os fãs para não chorar desta que vem sendo sua maior vitória, na qual o novo Tyson nocauteia o Tyson violento do passado.
Fontes: Agência de Notícias Jornal Floripa, Terra e UOL.