domingo, 1 de fevereiro de 2009

Morre Ingemar Johansson

O Martelo de Thor faleceu por pneumonia.


Ingemar Johansson - AP Photo


“Os dois primeiros assaltos foram de excessiva cautela e estudo um do outro, chegando a provocar vaias da assistência. No terceiro, o campeão abaixou-se para escapar de uma esquerda, mas foi alcançado por outra e mais um gancho e uma direita no queixo, que o mandaram a lona. Atordoado, levantou-se na contagem de nove. Johansson atirou-lhe terrível direita na cabeça, que o prostou até a contagem de nove. Patterson foi derrubado novamente e consegue levantar-se na contagem de seis; do seu nariz fluía sangue. A quarta queda aconteceu e o campeão levantou-se na contagem de seis. Levanta-se e é novamente derrubado. Outra direita envia Patterson para o chão pela sexta vez. Levantou-se para ser abatido pela sétima. Foi quando o juiz Ruby Goldstein considerou a pancadaria suficiente e suspendeu a peleja”.


Johansson manda Patterson a lona na 1° luta - AP Photo


O trecho acima escrito por Juvenal Queiroz no livro O Mundo do Boxe (1989) descreve o primeiro embate entre o então detentor da coroa dos pesados Floyd Patterson dos Estados Unidos e o desafiante sueco Ingemar Johansson em 26 de junho de 1959 na capital do mundo, Nova York. Além de lutar o europeu era cantor, ator e negociante de grande habilidade o que lhe rendeu uma fortuna fora dos ringues. Dia 30 morreu vítima de pneumonia.

A Associated Press, o elegeu esportista do ano quando triunfou na categoria máxima da nobre arte. “O Martelo de Thor” como ficou conhecido por sua origem nórdica e em referência ao seu soco de direita que o coloca entre os 100 mais potentes murros da Ring Magazine pesava 100 kg divididos em 1,83m. Suas mãos demoliram 17 dos seus adversários e somando essas apresentações com suas outras vitórias teve um total de 26 saldos positivos. Suas únicas duas derrotas foram por nocaute e para o mesmo rival. O sueco foi o 4° campeão a chegar a coroa invencível, os outros foram John Sullivan, Jim Jeffries e Rocky Marciano.

No passado foi medalhista de prata nas olimpíadas de Helsinque na Finlândia (1952), não conseguiu o ouro por falta de competitividade na final contra o estadunidense Ed Sanders. No profissionalismo bateu o italiano de Bolonha Franco Cavichi em 1956 pelo título europeu dos pesados e defendeu seu reinado contra o futuro cavalheiro da rainha britânica Henry Cooper com um nocaute técnico no 5° assalto e contra Joe Erskine, conterrâneo do anterior, com a interrupção por nocaute técnico no 13° giro.

As portas foram abertas para o cinturão com mais um nocaute desta vez sobre o desafiante no topo do ranking Eddie Machen em setembro de 58. Nesse período Johansson mostrou seu lado playboy em Nova York, não se exercitva de maneira tão pesada quanto os seus colegas de ofício e gozava a vida noturna com sua atraente “secretária”. Na bolsa de apostas era 5-1 contra ele.

O Martelo de Thor concedeu uma revanche para Patterson em junho de 1960 e nela foi para a lona após o desafiante saltar contra ele e desferir um gancho que o rendeu o título de primeiro bi-campeão dos pesados no esporte. Tendo o queixo como alvo, o corpo encontrou o solo já inerte os olhos vazios mirando as luzes, o pé esquerdo tremendo e sangue escorrendo de sua boca. O árbitro iniciou a contagem e depois Patterson, um dos homens mais benevolentes a subir num ringue, ergueu o seu parceiro de show e o conduziu até seu córner, o prometendo o mesmo favor que recebera, uma revanche. O gesto fraternal lhe rendeu o apelido de “Gentil Assassino”.
Johansson em preparação para essa luta aceitou um jovem de 18 anos para ser seu sparring e em uma sessão de treino, o garoto o fez parecer um bobo com sua esquiva felina. O garoto atendia pelo nome de Cassius Clay.


Johansson (dir) se prepara para encarar Patterson pela 1ª vez - AP Photo


O terceiro combate com Patterson foi em Miami no dia 13 de março de 1961 e mais uma vez um nocaute, só que desta vez no 6° round. O sueco durou um mais do que no embate anterior. O europeu não estava em sua melhor forma, apresentou fadiga e foi vítima novamente de um gancho de esquerda. Porém antes conseguiu dois knockdowns.

A aposentadoria veio em 1963, somando 11 anos de trabalho e com 4 vitórias depois da última chance pelo cinturão mundial. Ainda manteve-se envolvido com o esporte e virou um promotor em seu país colocando o ex-campeão Sonny Liston em um de seus eventos. Há 7 anos atrás foi incluso no Hall da Fama Internacional do Boxe.

Johannson e Patterson eram tão rivais que se viam como semelhantes e não poderiam ser inimigos como tantos outros pugilistas. Em tempos de paz ficaram amigos e se visitavam todos os anos. Além dos nocautes a dupla tinha mais uma coisa em comum. O mal de Alzheimer que em decorrência suas complicações de saúde os levaram; Patterson por câncer de próstata em 11 de maio 2006 e Johansson por pneumonia no dia 30 de janeiro de 2009 aos 76 anos.

Johansson casou e divorciou duas vezes e deixa 6 filhos. Detalhes sobre o funeral não foram anunciados. Nasceu na cidade de Gotemburgo e tem sua última morada em Onsala, também na Suécia.


Ingo em 2000 - AP Photo


Ingemar Johansson x Eddie Machen - Gotemburgo, Suécia, 14 de setembro de 1958



Floyd Patterson x Ingemar Johansson (campeão) II - NY, Nova York, 20 de junho de 1960 - Luta do Ano pela The Ring Magazine



Ingemar Johansson x Floyd Patterson (campeão) III - Miami, Flórida, 13 de março de 1961