quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Entrevista com Macaris do Livramento

Macaris, Nicoly, Rosilete / Franklin de Freitas


Macaris Antunes do Livramento é um dos principais mobilizadores do boxe paranaense, no seu período como profissional conquistou um cartel de 31 vitórias, 3 derrotas e 26 nocautes. Sua trajetória se estendeu de 1993 até 2005 e conquistou títulos internacionais das instituições menores do pugilismo que servem de trampolim para os grandes nomes.

Após deixar os ringues se dedicou aos bastidores, conheceu a ex-boia fria Rosilete dos Santos e hoje é seu esposo, treinador e empresário. Em entrevista ao Córner do Leão o veterano do quadrilátero fala de seu relacionamento e como funciona a estrutura por trás da paranaense que a levou ao título de uma agremiação de 2° divisão do esporte, mas que lhe abre portas internacionais.


Fale de sua carreira como pugilista. Do início, uma passagem importante e o momento que decidiu pendurar as luvas:

Iniciei no boxe amador em 1987, sendo que durante minha carreira nesta etapa realizei 23 lutas, foram 20 vitórias e 3 derrotas.
Em 1989 passei a lutar profissionalmente e perdi minha primeira luta por nocaute técnico no terceiro round, e então fui aconselhado abandonar os ringues. Essa luta aconteceu no Ginásio Moringão na cidade de Londrina, mas fui teimoso, e de lá para cá realizei 110 lutas com 105 vitórias, 75 por nocautes e 5 foram derrotas. Entre meus combates mais importantes destaco o dia de 10 de janeiro de 1995 quando subi no ringue pelo Título da Confederação Brasileira de Pugilismo, atual CBBoxe, e era o número um do ranking de 93 a 95. Em 1996 conquistei o título de campeão Intercontinental, em 1997 conquistei o Título Mundial pela World Boxing Comission, e campeão Brasileiro pela Confederação Brasileira de Boxe Profissional em 2001. Um fato histórico que repercutiu mundialmente quando eu e meu adversário sofremos uma queda do ringue quando lutava contra Ralf Riveros do Paraguai.
Em 2006, aos 46 anos realizei uma luta de despedida atendendo pedidos de toda imprensa do Paraná.


Você passou a treinar Rosilete dos Santos e depois casaram. Como foi o desenvolvimento desse relacionamento?

Conheci Rosilete dos Santos quando fui lutar na cidade de Castro, a partir deste momento passamos a nos ver constantemente e veio o amor. Os treinos de Rosilete dos Santos iniciaram após nosso casamento.


O fato dela ser sua esposa influencia no treinamento? Em algum momento você se preocupa mais do que se fosse uma atleta sem vínculos amorosos?

O tratamento com ela é de uma atleta campeã Mundial e com responsabilidade profissional. A preocupação sempre vai existir com os outros atletas que sou técnico e principalmente com ela, afinal ela é mãe da minha filha e minha esposa.

O fato de você ser presidente da Federação Paranaense de Boxe (FPB) influencia nas lutas de Rosilete?

Não, em hipótese alguma. As regras ditadas pela Federação tem que serem compridas e como presidente cobro o comprimento destas regras sem exceção.

Quando Rosilete disputou o cinturão dos super-penas mundial da WIBF contra a alemã Alessia Graf contava com 12 combates em seu currículo e a rival já tinha participado de mais de 20. A luta terminou em nocaute técnico no 5° assalto, mas estava programada para ir até o 10°. Quais critérios foram decisivos para aceitar esta luta?

Nós sabíamos da importância da luta e que se tratava de uma super campeã, mas, era uma oportunidade única, afinal Rosilete dos Santos lutaria na Europa. Nós estávamos muito bem preparados, a luta terminou no 5º round devido ao sangramento no nariz da Rosilete, mas em nenhum momento Alessia Graf abalou Rosilete, e se Rosilete conseguisse encaixar um golpe, como aconteceu no 4º assalto que Alessia sentiu, poderíamos ter ganho a luta por nocaute. Mas o árbitro entendeu que sangrava muito o nariz dela e parou a luta, as 15.000 pessoas que estavam no ginásio aplaudiram muito Rosilete dos Santos e isso foi uma vitória para nós.


Em sua opinião enviar Rosilete para encarar Graf foi uma decisão precipitada?

Não, pois Rosilete dos Santos estava preparada para a lutar com Alessia ou qualquer outra boxeadora. O erro meu foi não perceber e cauterizar o nariz para não sangrar. Atualmente o problema foi solucionado por meio de uma micro cirúrgia.


No mesmo ano Rosilete conquistou o cinturão da World Boxing Comission dos pesos galos. Qual foi a trajetória para obter esta vitória?

A Rosilete fez a luta com Alessia Graf na Alemanha dando-lhe prestígio internacional, posteriormente vieram duas vitórias seguidas, e o convite da World Boxing Comission surgiu.


O fato da World Boxing Comission não estar entre as quatro principais do boxe (CMB, AMB, FIB e OMB) o incomoda?

Não, a Rosilete dos Santos já lutou pelos Títulos das grandes entidades entre ela AMB a maior de todas contra Marcela Gutierrez da Argentina.

Desde Graf, Rosilete tem enfrentado adversárias não tão gabaritadas quanto ela. Quais são os critérios para encontrar oponentes? Vocês encontram dificuldades para encontrá-las?

A falta de patrocínios fortes e da própria imprensa do resto do Brasil dificultam o intercâmbio com grandes boxeadores do mundo. Trazê-las ao Brasil custa muito caro, por esta razão procuramos trazer boxeadoras Sul-americanas.


Rosilete é uma das brasileiras com mais destaque no cenário internacional. O que será feito para manter esse prestígio perante o mercado estrangeiro?


Rosilete dos Santos defenderá seu Cinturão da World Boxing Comission , já estão havendo contatos para ela lutar na Europa pelo Título de uma das grandes entidades, alguns convites já foram recusados pelo valor da bolsa oferecida.

Sua esposa é uma figura pública na sua cidade. Como é o tratamento dado a ela pelo povo? Sente uma ponta de ciúmes?

Realmente Rosilete dos Santos é uma das dez maiores personalidades do esporte paranaense (pena que o resto do Brasil ainda não a conhece), ela possui muito prestígio com políticos, empresários e imprensa paranaense.
Não cinto ciúmes e sim orgulho da profissional, da mãe e da esposa que é.