domingo, 23 de setembro de 2007

A primeira faz Tum, a segunda faz Tei


 Irineu Beato Costa Jr. / (Foto: Gabriel Leão)

A violência do cárcere encontra paz dentro dos ringues

Os olhos são vivos como os de um grande felino, não assustados como o de uma lepre e nem raivosos como os de um pitbull, apenas sagazes, já o sorriso disfarça um período de sofrimento de alguém que ficou muito tempo em um navio negreiro ou numa senzala.

O corpo é de quem trabalha com os braços em uma lavoura ou construção, seu andar mistura firmeza e gingado o que denuncia seu tempo de malandragem e sua atividade atual. Quando ergue seu corpo do sofá velho embaixo do viaduto ele intimida até quem passa longe, mas finge não perceber.

Ele sabe que não é mais apenas um atleta, “a molecada que começou treinando comigo me tem como exemplo de fé e perseverança”. O Budismo entrou junto com o boxe em sua vida após uma série de erros como um assalto à mão armada que na sociedade brasileira condena uma pessoa mesmo após ela pagar seus débitos com a justiça.

Quando questionado sobre seu passado o sorriso some e o rosto vira para o outro lado, pois lembrar de uma “vida sofrida de quem tá preso e no meio de crime e droga” não é agradável. Uma passagem parecida também teve o campeão mundial Sonny Liston.

No palco envolto por três cordas ele é conhecido como Negro Tei. “Tei é o som do meu golpe e foi uma revelação que tive na cadeia”. No ringue ele se move e bate como Liston e pode acabar também conquistando um cinturão mundial, mas fora do ringue seu futuro está longe de uma agulha de heroína. Negro Tei mostra que o boxe também pode mudar vidas e não apenas nocauteá-las.