sábado, 19 de dezembro de 2009

Jackson Jr. comemora, Roberto lamenta.

1ª luta em São Paulo, as outras apresentações de Roberto de Oliveira Jesus foram em sua terra natal, Salvador, na Bahia e até já disputou cinturões internacionais como o interino latino dos super-médios da Organização Mundial de Boxe em 2008 e também a coroa intercontinental dos meio-pesados da World Boxing Foundation – 2ª divisão –, mas não as conquistou. A carreira também levou Roberto para a Finlândia onde também conheceu a derrota.

Em Salvador o boxeador é rei, não perde uma, e conforme seu técnico Marcos Lago foram 12 vitórias e 4 por nocaute ao longo de sua trajetória, mas seu atleta “veloz, sem medo, ambidestro, pegador, raçudo” e com uma agilidade que o faz dançar em alguns momentos no ringue não conseguiu impor seu jogo contra Jackson Jr. Pelas mãos do paulista conheceu na noite de hoje mais uma derrota pela via rápida.

O local do combate foi a academia Runner do bairro do Butantã na zona oeste de São Paulo, um espaço para pessoas de classes abastadas as quais ambos pugilistas não pertencem, o vestiário limpo e cheiroso é muito diferente da maioria dos ginásios pelos quais a grande massa de boxeadores se apresenta pelo Brasil por bolsas miseráveis e o técnico Marcos Lago comentou: “aqui em São Paulo há apóio. Na Bahia temos talentos, mas poucos patrocínios”.

A exibição dos pugilistas visa levar o esporte para a elite da capital paulista, a Runner mantém um programa de boxe olímpico de 300 alunos e tem uma estrutura favorável ao esporte. Cristiano Azevedo, 23, roupeiro do vestiário fala entusiasmado do pugilismo e tem como ídolo Popó conterrâneo de Roberto de Oliveira Jesus.

Gordos peludos, adolescentes desenvolvendo o corpo, marombados... homens de diversas idades, etnias e tipos físicos observam os dois jovens lutadores esguios como felinos se preparando para o combate. Oliveira de Jesus golpeia o ar observando o espelho como quem sabe que o combate maior é contra si mesmo. Com pouco suporte não vê um grande futuro na nobre arte como quando sonhava ao iniciar os treinos, o semblante que traz uma cicatriz próxima ao olho esquerdo é sofrido e o olhar melancólico.

Jackson Jr. é empresariado por Servílio de Oliveira, dono de uma medalha olímpica de bronze conquistada em 1968 nos Jogos do México e único dono de tal feito no Brasil até hoje. O rapaz de 23 anos escuta de seu mestre que essa é a última do ano e abertura para uma temporada de grande ascensão, o ex-pugilista que já perdeu um olho no dramático jogo que é o boxe avisa que aquele é um futuro campeão mundial.

“O Demolidor”, como é conhecido Jackson Jr. é apontado como prospecto do esporte e mesmo assim não consegue viver só das luvas, trabalha durante o dia como metalúrgico e completa a renda ensinando boxe – seus alunos foram assistir o combate e estavam ansiosos pela entrada do professor –. “É tudo que penso na hora que vou lutar”, o pugilista-operário lembra de sua filha, Maria Vitória, de quase 5 anos.

Um combate entre amadores da academia aquece o público. E após a definição do vencedor o combate profissional tem início, o baiano Roberto Oliveira de Jesus vestindo calção negro não é aplaudido e nem vaiado, surge sem o brilho de quem já estrelou combates internacionais. Jackson Jr. segue ao ringue, trajando um roupão azul e branco e calção combinando, a trilha sonora é Black Music, seus amigos e fãs gritam seu nome ao som da batida, a cena parece saída de um clipe de Gangsta Rap.

Figuras conhecidas do meio como Reinaldo Carrera, Sidnei DalRovere, Marcos Febem, Seu Edu e Raphael Zumbano assistem o combate. A luta lembra ligeiramente um clássico da nobre arte, o nocaute de Sonny Liston sobre Floyd Patterson valendo o título dos pesados em 25 de agosto de 1962.

O papel de Liston coube à Jackson Jr. que seguiu avante buscando encaixar golpes na cabeça, enquanto, Jesus mostrou-se pouco confiante e se apresentou semelhante à Patterson naquela noite. O baiano partiu para clinches e manteve uma postura de evitar a luta.

Um upper entra, 1° knockdown. Um cruzado de esquerda, 2° knockdown. Um direto, 3° knockdown. O árbitro Ricardo Lobo encerra o combate. Jackson Jr. tem 7 vitórias, 6 pela via rápida e um futuro promissor pela frente. Seus seguidores deliram, alguns pulam, outros gritam e dois golpeam os sacos de boxe da academia. “O Demolidor” de poucas palavras analisa o combate: “posso mostrar muito mais, o adversário era fraco”.

Roberto Oliveira de Jesus desce do ringue com os ombros pesados, é sua 5ª derrota e a 5ª pela via rápida. Os olhos parecem desviar do público, da mesma maneira que Patterson evitou os fãs, quando questionado sobre suas expectativas profissionais contempla o futuro: “se conseguir algo (patrocínio) continuo, senão paro”.