O Boêmio dos Ringues
Nelson Gonçalves (1919 – 1998) teve uma vida agitada, foi preso por porte de cocaína, passou por tratamento para abdicar do vício, atuou como cafetão na Lapa carioca onde conheceu Madame Satã e escutou muitos “nãos” até engatar na carreira. Porém sua vida foi feita mais de altos do que baixos, é lembrado como um dos maiores cantores do Brasil, e voz da canção A volta do boêmio.
Teve profissões que fugiam muito daquela que o tornou famoso: jornaleiro, mecânico, engraxate, polidor e tamanqueiro, mas a que lhe rendeu o apelido de “pugilista-cantor” foi a de boxeador. No livro Playboy – As Melhores Entrevistas (2009), o artista fala de sua carreira nos ringues paulistas ao jornalista Bob Jungmann em maio de 1998.
Começou na nobre arte aos 16 anos após ser surrado em uma briga de futebol. Nos ringues conquistou o título de campeão paulista dos pesos-médios, acumulando 24 nocautes no amadorismo e um empate com o Galo de Ouro Éder Jofre no Ibirapuera - o combate foi amistoso e o lutador profissional respeitou o amigo -.
Nascido Antonio Sobral Gonçalves, utilizou os dois primeiros nomes na carreira de lutador para não ser reconhecido pelos pais que abominavam o esporte, nesse período os combates lhe rendiam apenas “um cesto de laranja e um bifinho”. Revelou que encerrou a vida esportiva ao cair num knockdown e decidir não levantar mais. “Por mim, o senhor pode contar até mil, que vou ficar aqui mesmo”, lembrou o artista na entrevista.
Nelson Gonçalves tem uma vida que vale a pena ganhar o público tanto quanto suas músicas. No livro de entrevistas da Playboy outras personalidades falam de seus momentos como os pilotos Ayrton Senna e Nelson Piquet, o escritor Nelson Rodrigues, o jornalista Paulo Francis, os políticos Lula e FHC e o cantor Tim Maia.
Eder Jofre (esq.) e Nelson Gonçalves (dir.) / (Foto: Nelson Bar - Arquivo)
Nelson Gonçalves - A Volta do Boêmio