quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Entrevista com diretores do documentário Boxeduto

"A intenção é mostrar como, apenas com um espaço, uma idéia na cabeça e um pouco de ajuda é possível proporcionar um pouco mais a quem quase nada tem."

O documentário Boxeduto apresenta o pugilismo como meio de inclusão social, o cenário é a já famosa academia de Nilson Garrido embaixo do Viaduto Do Café na Bela Vista, bairro da capital paulista. Os personagens apresentados variam desde a garota sem lar que encontra abrigo no local até o pugilista que sonha com uma coroa mundial.

Os realizadores são Maurício Dehò e Carolina Lomelino, ambos formados pela PUC de São Paulo no ano passado. A obra foi o trabalho de conclusão de curso da dupla. Em entrevista ao Córner do Leão eles relatam como foi filmar essa experiência.

Como surgiu a idéia de filmar na academia de Nilson Garrido?

Maurício: A escolha por um tema voltado a projetos e causas sociais já era uma certeza como objetivo para nosso Trabalho de Conclusão de Curso. Queríamos achar algo que mostrasse uma ação simples, porém efetiva, que realmente estivesse tentando melhorar a crítica situação do país.
No fim de 2006, uma idéia surgiu a partir de uma experiência profissional de Maurício, que trabalha no Diário Lance!. Ele conheceu o projeto de Nilson Garrido ao escrever – junto ao repórter Paulo Roberto Conde – uma matéria sobre a iniciativa, publicada pela Revista A+, do grupo Lance! (Número 325, de 2 a 8 de Dezembro de 2006 – ANEXO 1). Consideramos ser o tema ideal que procurávamos para ser retratado em nosso documentário.

Qual é a proposta do filme?

Maurício: A intenção é mostrar como, apenas com um espaço, uma idéia na cabeça e um pouco de ajuda é possível proporcionar um pouco mais a quem quase nada tem. Ou, aos que não passam por estas dificuldades, terem a oportunidade de buscar uma ligação com o outro, identificando-se nesse novo contexto com o qual, a princípio, teriam muito pouco em comum. É também uma chance de mostrar que é preciso pouco para que as pessoas possam superar suas dificuldades e como o apoio um nos outros consegue vencer os maiores obstáculos.

Como se deu a escolha dos personagens centrais?

Maurício: Desde o começo já possuíamos em mente que gostaríamos de mostrar por meio dos personagens essa grande diversidade que há no projeto. O Maurício ao fazer uma matéria para o Lance! conheceu o Carlos e Jack, que já demonstravam grande parte dessa variedade. Como também havia mulheres no local, tomamos como princípio que uma delas também deveria fazer parte. A Rebeca foi uma indicação do Garrido, que acatamos por causa de sua história que a obrigou morar em uma das sedes do Projeto.

Qual é a importância desse tipo de projeto?

Carolina: Acreditamos que sejam realmente muito importantes. Se não fosse por esses pequenos projetos que tomam em suas mãos as de nossos governadores, sem dúvida nenhuma, estaríamos em uma situação bem pior da qual nos encontramos.
São esses projetos que quebram as barreiras e conseguem aos poucos mudar essa visão individualista que possuímos atualmente, além, é claro, de ajudar de diferentes modos a população carente a se reestruturar e voltar a fazer parte da sociedade.

Qual é o panorama do boxe atual?

Maurício: O boxe atual vive um momento muito difícil. Além de nunca ter tido uma estrutura boa e um respeito perante a sociedade, a falta de campeões faz muita diferença. Desde que Popó deixou de ser campeão mundial e Sertão perdeu seu cinturão de uma maneira muito triste, com hepatite, ninguém mais se destacou e parece difícil que isso aconteça, a não ser que parta de talentos individuais apenas.

Qual seu filme de boxe predileto?

Maurício: Além da série Rocky, que teve um papel bastante importante para a divulgação do boxe na época do lançamento, outros tem histórias bem interessantes. Um dos melhores é "Homem Cinderela", um filme recente que traz a história de um pugilista da década de 20/30, que passou por dificuldades durante a crise de 1929, mas foi campeão mundial. Com o mesmo nome, o livro que se refere ao mesmo lutador - James J. Braddock – também é muito recomendado.

Como é ter o documentário exibido pela TV Cultura?

Carolina: É muito legal, ficamos muito agradecidos pela oportunidade e especialmente contentes por poder divulgar em maior escala o nosso trabalho, o de Nilson Garrido e de todos os componentes do Projeto Cora-Garrido.
Maurício: É uma chance ótima de fazer um algo mais com o que poderia ser apenas um trabalho de faculdade e ainda mostrar nosso tema para o Brasil todo.

Boxeduto Parte 1



Boxeduto Parte 2



Boxeduto Parte 3