quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O boxe é uma analogia da vida


Para a intelectual Joyce Carol Oates, autora do livro "O Boxe" e vencedora de diversos prêmios Pullitzer, o pugilismo é uma metáfora da vida, em seu texto ela também concluí que o esporte está mais próximo de um acidente de trânsito do que para o lúdico visto em jogos de vôlei e futebol.

No ringue são visíveis aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos e para comparar a relação do boxe como um espelho da sociedade usarei alguns atletas como exemplo:

Jack Johnson foi o primeiro campeão mundial de boxe negro, seu reinado foi de 1908 até 1915. Saia com garotas brancas, gostava de carros velozes e festas, era o tipo de negro que os E.U.A não queriam. O antigo detentor do cinturão, o canadense Tommy Burns passou a ser visto como uma anomalia pelos brancos, pois para eles o lutador desgraçou sua raça.

A sociedade prendeu Jack por transportar uma branca de um estado para o outro, o que era proibido por lei, mas na verdade moça era sua esposa. Anos mais tarde, em 1946 para ser exato, o atleta morreu em um acidente automobilístico.

A história de Johnson mostra a raiz do racismo estadunidense e sobre essa situação uma frase lhe é atribuída: "Eles nunca me deixaram esquecer que sou negro, agora eu nunca deixarei que eles esqueçam que sou negro."

Em 1929 a terra de George Washington sofreu com a Quinta-feira negra, dia que marcou o Crash da bolsa de valores em 1929, o que veio após foi uma pobreza que parecia prestes a subjugar aquela que se tornaria a nação mais potente do mundo. Nesse cenário de larga pobreza surgiu o herói da classe trabalhadora, James. J. Braddock, o “Homem-Cinderela”.

O apelido lhe foi dado por um jornalista da época em razão do conto de fadas vivido pelo descendente de irlandeses que contava com mais de 20 derrotas em seu cartel e estava no limbo do esporte, porém mesmo assim obteve sua chance e derrotou o campeão Max Baer.

Joe Louis, o "Bombardeiro Marrom", foi o segundo negro detentor do boldrié mundial (1935-1949). Após Johnson perder o título para Jess Willard em 1915, a comissão esportiva criou políticas para que um negro nunca colocasse as mãos no título. James J. Braddock, o "Homem Cinderela" aceitou lutar contra o jovem de Louisville e com cláusula se caso o desafiante o derrotasse ele ter uma porcentagem de sua bolsa em todas as lutas.

27 anos após o reinado de um negro o Bombardeiro tem o direito de mostrar que não existe diferença de raças. Louis tinha que ser sempre bonzinho em público e para isso tinha diversas regras de conduta estabelecidas pela sua assessoria, entre elas nunca sair em fotos com mulheres brancas. Seu comportamento "exemplar" o fez ser respeitado até entre os racistas do sul estadunidense, entretanto, seu fiel séquito sempre foram os negros ainda segregados pelas leis estadunidenses.

A década de 60 ficou conhecida pelas ideologias, um período de hippies, guerra fria, movimento dos direitos civis e foi nela que Muhammad Ali iniciou sua trajetória. Ali antes chamado Cassius Clay possuiu três reinados entre a década de 60 e a de 70. “O Maior de Todos” como gosta de ser chamado defendia não só a segregação racial, mas também a soberania dos negros e isso incomodou demais a sua sociedade, com os anos ele abandonaria essas idéias, mas ainda continua um ícone para a raça negra e um porta-voz da humanidade.
Seus adversários eram vistos pela sociedade como capitães do mato que caçavam o negro fujão, ou esperanças brancas prontas para devolver o título de homem mais forte para os brancos.

Ali deu expressão para os negros e com o tempo passou a ser respeitado como um verdadeiro herói americano sendo retratado em filmes, livros, músicas, artes plásticas... tornou-se um símbolo cultural e histórico.

Mike Tyson mostra as mudanças vividas nas décadas de 80 e 90, tudo passou a ser rápido, a cultura do "fast food" e o estilo estético da MTV que preza o imediatismo conquistou os meios de comunicação e depois o estilo de vida americano que influencia o de diversas nações no mundo.

Qual a relação de Tyson com o imediatismo? Bom os fãs de Tyson querem tudo rápido, e se tem algo que ele fazia bem era entregar um nocaute na hora certa para eles.

Com o final da guerra do Vietnã o mundo ficou menos romântico, a ingenuidade foi quebrada e os heróis perderam o apelo. Basta ver que Wolverine atraí muito mais fãs que o Capitão América. Todas essas mudanças refletem em como Tyson pode ser admirado, um anti-herói.

E hoje qual campeão é a cara do período no qual vivemos tão segmentado e desunido. O nosso período não tem um grande campeão, mas sim vários em algumas oportunidades até quatro e outros chamados de interinos. O mundo hoje é confuso e difuso assim como o “quem é quem” do esporte de luvas.

Foto: Muhammad Ali e Joe Louis