sábado, 11 de outubro de 2008

Entrevista com Pedro Otas


Em fevereiro desse ano Pedro Otas conquistou o cinturão Latino-Americano Interino da OMB (Organização Mundial de Boxe) ao derrotar o argentino Hector Alfredo Ávila (16-8-1) com essa conquista adicionou mais uma boa apresentação num cartel de 17 vitórias e 15 nocautes.

Sua vida nem sempre teve passagens alegres como a de todos os grandes nomes do boxe e em entrevista Otas revela quais causas o levaram a usar doping em sua preparação para os Jogos Pan-Americanos de 2003. O pugilista também fala de sua recente conquista e de planos para o futuro como cruzador em cima dos ringues.

Anteriormente você era um peso-pesado e agora atua na categoria dos cruzados. Como avalia essa mudança?

Após 2 anos sem competir retornei ao boxe em 2002 e já na categoria máxima. Na época ainda amador conquistei todos os torneios disputados no país inclusive os de seletiva para os Jogos Pan-Americanos (Santo Domingo 2003) e Olímpicos (Atenas 2004). Me tornei profissional em 2004 chegando a primeiro do ranking brasileiro dos pesados fazendo um total de 14 lutas invictas todas por nocaute. Sou dirigido por uma equipe competente na qual decidiram pela mudança de pesado para cruzador. Respeito a decisão do grupo.

Você sofreu uma intervenção cirúrgica em uma das mãos. O que ocorreu?

Infelizmente minha carreira até agora foi marcada por muitas lesões e talvez um dos principais motivos fora a má orientação que tive no meu início dela. Sempre sonhei com uma total recuperação e acredito que hoje isso seja realidade. Agradeço a equipe médica que tratou com muito carinho e profissionalismo o meu caso, em especial ao Dr. José Carlos Garcia no qual encontrei um grande amigo.

Você hoje é o numero 1 do ranking brasileiro pela C.N.B. (Conselho Nacional de Boxe) e o título desta entidade está vago, enquanto pela C.B.B. (Confederação Brasileira de Boxe) você também é o primeiro, entretanto, o campeão é Laudelino Barros. Quando pretende lutar por esses cinturões?

Vejo dois grandes adversários nesta categoria os quais gostaria muito de enfrentar pelo titulo nacional, um deles é o paranaense Edson Foreman o outro é Laudelino Barros. Tenho certeza que venço os dois e unifico o título das duas entidades.

Sabemos que houve por parte da sua equipe o interesse em colocá-lo frente a esses dois adversários. Porque essas lutas não aconteceram?

Sinceramente... Eu acredito que eles devem me achar feio demais (risos).

Quando pesado, muitos acreditavam que você fosse o único a tirar o cinturão de George Arias quebrando sua hegemonia de quase 10 anos frente ao boldrié brasileiro. O que faltou para que esta tão esperada disputa ocorresse?

Acho que para um confronto deste nível acontecer é preciso ter o acerto financeiro e que ambos atletas estejam confiantes sobre suas condições físicas e mentais. Sempre quis ter a chance de enfrentar Arias, lutador pelo qual sempre tive admiração e respeito. Fizemos contato, mas na época não houve interesse da parte de sua equipe. Já quando eles nos procuraram para acertar os detalhes da luta pelo título, minhas condições é que não eram favoráveis. Mas acredito que ainda teremos a chance de nos enfrentar em um grande evento televisionado para todo o Brasil.

Hoje você está entre os 15 maiores cruzadores de acordo com a Organização Mundial de Boxe. Quais são suas chances contra os outros catorze? Pensa em enfrentar algum deles?

Sim! Ocupo a 13ª colocação após conquistar o título Latino-Americano Interino pela W.B.O (Organização Mundial de Boxe). Como pretendo chegar à coroa mundial, tenho chances de vencer qualquer um, mas sei que preciso melhorar muito e no estágio que me encontro sei que é importantíssimo dar um passo de cada vez enfrentando o 12º depois o 11º e assim sucessivamente.

O que você achou do desempenho da seleção olímpica nos Jogos de Pequim? E o que falta para uma tão sonhada medalha?

A Confederação Brasileira recebe muita grana anualmente, mas eu que já fiz parte da seleção nacional treinando e morando no centro de treinamento sei que é realmente complicado as condições dos atletas por lá. Percebi dirigentes abrindo empresas, andando de carro importado... Esquisito, né?
Temos muitos talentos, mas pouca gente idônea no comando. É isso que falta pra muitas medalhas aparecerem.

Na sua experiência como amador foi encontrado em 2003 em seu corpo uma alteração na relação entre epistosterona-testosterona que caracteriza o uso de esteróides anabólicos. O que o levou a recorrer ao doping?

Infelizmente foi fato. Meu pai estava doente de câncer e acumulamos diversas dívidas devido ao tratamento, eu estava com uma ruptura no ombro e precisava me recuperar a tempo para a competição seguinte, o prêmio pago em dinheiro ajudaria a saudar parte da divida. Estava desesperado, então um veterano na área da musculação que trabalhava na academia em que eu dava aulas de boxe me indicou um tal coquetel que recuperaria a musculatura lesionada em poucas semanas me deixando apto para lutar. Não sabia que aquilo era ilegal, juro!

Fui julgado e condenado, mas é difícil pensar quando o risco atingiu meu pai e minha família. E por eles eu faria tudo.

Seu irmão Gustavo Otas está prestes a se profissionalizar. O que podemos esperar dele?

Meu irmão é um grande talento e já provou isso como amador conquistando grandes titulos em 4 categorias diferentes. Acredito que como profissional ele deva atuar entre os super-médios (76,6 kg) ou meio-pesado (79,750kg). Eu e minha equipe temos muita fé no sucesso dele!

Um grande abraço a todos!


Foto: Pedro Otas campeão Latino-Americano Interino OMB