sábado, 29 de dezembro de 2007

Entrevista com Joice Silva



Como lutadora a Educação Física me ensinou a cuidar melhor da saúde do meu corpo

Joice Silva é fruto de um projeto social para crianças carentes no bairro de Quintino na zona norte carioca onde o técnico Cássius Marcelo começou a moldar uma das principais wrestlers das Américas. Nos Jogos Pan-Americanos do Rio não passou das quartas de final terminando com o 8º lugar na categoria até 55kg, mas 2007 foi também o ano que ela venceu dois torneios importantes no Canadá: o Toronto Open e o Concórdia International Invitational.

Entre sua carreira de apenas seis anos já figuram seis títulos nacionais e duas medalhas de bronze em edições de Pan-Americanos de wrestling 2005 e 2006. Em entrevista ao Córner do Leão a lutadora revelou seu início, o caminho para o Pan, treinos no Canadá e o que acha de cotas para negros nas universidades.

Como foi seu início nas artes marciais?

Comecei treinando jiu-jitsu na aula de Educação Física no ensino médio. Meu professor foi Cássius Marcelo. Escolhi a modalidade por curiosidade, pois ouvia falar muito, mas não sabia o que era. Depois de dois anos que já praticava conheci a luta olímpica. Meu professor de Jiu-Jitsu me falou sobre a modalidade e disse para que eu treinasse também. Então fui até a Gama Filho e comecei a treinar com o Jeferson Teixeira depois veio o professor Gilberto Arbués, com quem treino até hoje.

Entre as modalidades que treina qual é a sua favorita? Qual sua graduação nelas?

A favorita é a que tem me dado muitas felicidades, me permitiu viajar por vários países, conhecer pessoas e outras culturas diferentes e até estudo me proporcionou. Atualmente tenho meus objetivos voltados para a luta olímpica, logo ela é prioridade para mim. Treino há seis anos e não temos graduação. Além da luta treino submission na Black House. Sou faixa marrom de jiu-jitsu, mas faz anos que não coloco um quimono pra treinar, mas também sou apaixonada, porém tenho que estabelecer as prioridades.

Pensa em competir no vale-tudo?

Já penso nessa possibilidade sim.

Você sempre acreditou na possibilidade de disputar os jogos Pan-Americanos do Rio?

Depois que perdi a seletiva para os Jogos Pan-americanos de Santo Domingo em 2003, já sabia quais eram os passos que tinha que dar e então tracei meus objetivos. Sempre acreditei que podia chegar lá.

Como foram seus treinos para entrar na seleção brasileira?

Foram feitos alguns campeonatos qualificatórios para se formar a equipe que ia disputar os Jogos Pan. Os pontos iam se somando e no final entraria aquela que tivesse o maior somatório. Então me preparava para cada campeonato de uma vez. Sempre buscando montar uma tática para cada adversária que eu fosse enfrentar.

Atualmente treina no Canadá. Como são os treinos?

Passei uma temporada de dois meses no Canadá para intercâmbio. Os treinos são divididos em físico e técnico. O físico se compõe de corridas, natação, musculação e o treino técnico de posições e luta.

E as condições dos locais de treinos diferentes das que você tinha no Brasil?

Muito diferente sim. Lá as instalações são da melhor qualidade com tudo que um atleta precisa para se desenvolver bem. Aqui no Brasil muita coisa tem que ser adaptada. Inclusive o local de treino.

E quanto aos wrestlers, como é o estilo do canadense de lutar e o do brasileiro?

Existe sim diferença, mas sinceramente não sei te responder essa pergunta. Acho que é porque o atleta tem muitas características do seu professor. No clube onde estava o professor é russo, logo seus alunos têm estilo diferente dos outros canadenses.

Conte como foram suas conquistas nos campeonatos sediados no país:

Participei de três campeonatos, sendo campeã em dois e vice em outro. Lutei contra as segunda e terceira melhor atleta de lá além de outras meninas bem técnicas e fortes. Foi um ótimo intercâmbio.

Acredita que projetos sociais na evolução da nação?

Acredito que projetos sociais podem ajudar na evolução social sim. Mesmo que não aconteça para toda uma sociedade, pelo menos ele pode interferir na vida de algumas pessoas.

Além de ser atleta, você é universitária e cursa Educação Física. O que o conhecimento acadêmico agregou a sua carreira de lutadora?

Formei-me em 2006 pela universidade Gama Filho. Como lutadora a Educação Física me ensinou a cuidar melhor da saúde do meu corpo. Perceber quando um exercício pode prejudicar ou quando pode não estar fazendo efeito. E tudo de positivo que estudar pode trazer a uma pessoa.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apenas 2% dos universitários no país são negros. A política de Cotas possui apóio e desaprovação de grupos de movimentos negros. Qual a sua opinião sobre a medida?

Enquanto as escolas públicas não puderem disputar em igualdade com cursinhos e escolas particulares acho as cotas devem continuar sim.

Foto: Arquivo Pessoal