quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
Entrevista com Murilo Paolielo
No Fury 5, Murilo Paolielo sagrou-se campeão brasileiro de kickbong categoria 75kg seguindo os passos do seu técnico Paulo Zorello. O jovem além de atuar como atleta também é diretor técnico da Confederação Brasileira de Kickboxing.
Em entrevista ao Córner do Leão, o kickboxer conta como foi sua trajetória até o título, o peso de acumular funções e o futuro do esporte no Brasil e no mundo.
Atletas de ponta não precisam ter outras atividades além do esporte, você é competidor e ainda por cima diretor técnico da Confederação Brasileira de KickBoxing. Como concilia ambas atividades?
Realmente não é uma tarefa fácil, porém quando a gente acredita em algo fazemos com amor e acaba tudo ficando mais fácil. Diante de tantas dificuldades encontradas pelos atletas no nosso país poder fazer um trabalho que ajude é difícil, porém recompensador. Alem disso também sou técnico da CBKB, professor da academia Corporis no Ipiranga e estou dando aulas de personal, mas somente para conhecidos. O trabalho da CBKB é importante e ocupa muito o tempo, mas estou satisfeito, pois como diz o ditado “cabeça vazia oficina do diabo” estou ocupado sempre graças a Deus.
Qual foi a evolução da CBKB com você como diretor técnico?
A CBKB juntamente com o Kickboxing vem crescendo muito, para se ter idéia estamos no caminho para os jogos Pan-Americanos do México em 2011 e com isso tornar o Kickboxing esporte olímpico. Você e todos os leitores têm idéia do que isso representa?...
Hoje a CBKB é a quarta confederação com maior numero de atletas contemplados pelo projeto bolsa atleta e disputa com os grandes esportes como atletismo judô, enfim... com todos. A evolução está apenas começando e o futuro reserva muitas coisas boas para o nosso esporte.
Sendo diretor você pode lutar nos eventos da CBKB. Esse fator influencia nos julgamentos dos árbitros?
Assim como eu, o Deucelio Rodrigues também exerce as duas funçoes, o Carlos Inocenti também é um dos diretores além de ser pai e técnico do Guto Inocenti. O esporte está num nível muito alto e não tem mais essa de fator em julgamento, pois somente assim poderemos crescer, minha luta no Fury foi muito contestada e parelha, eu até depois cheguei a conversar com os árbitros e todos inclusive o central me deram os motivos de julgamento e que eu realmente fui o vencedor.
Você está invencível. O que sente quando pensa que pode ser derrotado?
Eu treino pra vencer, aquele que pensa que pode ser derrotado, já está meio derrotado.
No ringue sobem 2 e somente 1 sai vencedor, a derrota é algo que devemos saber lidar e caso venha a acontecer deve servir de exemplo para rever os erros e melhorar as falhas. Eu sigo sempre o caminho de manter os pés no chão e saber que a evolução e dedicação tem que ser diária e progressiva, assim o caminho da derrota se distancia e a vitória fica mais perto.
Você trabalha com Paulo Zorello. Como é sua relação com ele?
Eu comecei a treinar com o Paulo quando eu ainda era muito novo, sempre mostrei dedicação, e ao contrário do que muitos falam, tive e tenho que comprovar minha competência e capacidade a cada dia que passa. Porém tenho além da figura de mestre no Paulo, a figura de um amigo que sempre posso contar e que me faz crescer a cada dia, me dando responsabilidades e deveres e com certeza me tornando um atleta e uma pessoa mais centrada e com os objetivos traçados e o caminho para alcançá-los.
Nos anos 90 ele teve suas lutas transmitidas na televisão. O que deve ser feito para levar o kickboxing novamente para os canais abertos?
Como eu disse, todos os dias estamos trabalhando com a proposta olímpica, hoje a nossa entidade mundial a WAKO foi reconhecida pelo GAISF (General Association of International Sports Federations) que é o órgão que rege os esportes olímpicos, no kickboxing de mais de 200 entidades que tentaram somente a Wako foi reconhecida, ou seja, hoje já somos esporte olímpico, tanto que as regras sofreram alterações para atender o padrão olímpico, e assim que chegarmos nela, num futuro bem próximo voltaremos a ter este esporte na tv aberta.
Os lutadores vale-tudo preferem o muay thai ao kickboxing como estilo de trocação. Você acredita que a arte marcial tailandesa é superior?
Como eu digo muay thai está na Tailândia, onde se luta muay thai aqui? Com regras asiáticas?
O que se luta hoje no mundo é Kickboxing, acesse a pagina do Ernesto Hoost, Peter Aerts e veja o que está escrito em estilo que luta: Kickboxing.
O K1 é nas regras do Kickboxing, tanto que uma das modificações do Kickboxing agora foi a mudança de nome do Thai Kick para K-1 Rules.
Falando francamente eu acho o kickboxing superior, pois o trabalho de boxe e chutes o torna muito mais completo, um lutador de muay thai se enquadra bem nas regras asiáticas, mas na regra do que se luta no mundo é muito mais difícil, o próprio Buakaw teve que se adaptar as regas do K-1 e veja nesse último como o Masato o venceu.
E o Andy Sower luta o que? Com o boxe refinado e um bom trabalho de pernas e excelente movimentação?
Sua última conquista foi o cinturão brasileiro profissional de kickboxing no Fury 5. Conte como foi essa vitória e o que ela representa na sua vida:
Foi uma luta muito dura, um adversário canhoto, que eu tive apenas dez dias pra me adaptar ao jogo e ainda na semana anterior a luta, o Paulo esteve viajando para o Mundial e eu fiquei sem treinador, demorei os dois primeiros rounds pra me encontrar, pra achar aquela confiança de lutar, mas como eu vinha fazendo um excelente trabalho de preparação física com meu preparador Vagner Príncipe, o Salsicha e contava com o apoio da equipe Sportfisio do Dr Cyrus e do nutricionista Dr Everton Nunes e do Dr Ricardo Cunegundes, estava muito bem fisicamente e também psicologicamente, pois retirei algumas pessoas da minha vida ao qual eu julgava boas, mas que estavam na verdade sendo prejudiciais, então estava muito bem e centrado e pude suportar o castigo no início e partir pra cima praticamente zerado nos três rounds finais, eu vejo que foi uma luta parelha, não tenho nada contra o Tico, foi a minha luta mais dura até hoje, porem eu consegui acertar, fazê-lo sentir o golpe e dei seqüência por três vezes. Alternamos muitos golpes isolados, porem acredito que fui mais eficiente, pois não senti em nenhum momento a mão dele e vi que ele sentiu a minha, porem como eu disse, quem esta ali pra perder?... Foi uma luta dura, uma de muitas que ainda estão por vir. Deixo meus parabéns para esse grande atleta e foi uma honra lutar com alguém tão experiente.
Essa vitória representa um passo a mais na minha vida, uma vitória à mais, porém já foi, agora é treinar e treinar cada vez mais.
No panorama atual consegue ver alguma ameaça ao seu recém conquistado cinturão brasileiro profissional?
Temos grandes atletas no Brasil hoje, aqui em São Paulo tem o Adriano do Serginho, ao qual já venci uma vez e ele é o dono do cinturão paulista do peso e recém conquistou o cinturão de Full Contact também desse peso, ele já me pediu uma revanche e vou tentar unificar os títulos, tem o próprio Tico, Inafitales, grandes atletas, mas como disse anteriormente, mantenho os pés no chão e sempre busco uma melhoria diária e progressiva. Porém acho que o melhor atleta desse peso é o Tadeu San Martino, somos grandes amigos, parceiros de treinos e enfim, ele não disputou o cinturão pois estava se recuperando da brilhante atuação no GP do Demolition. Tenho planos de mudar de categoria e deixar que ele seja o grande nome da 75kg, onde sim eu não vejo ninguém, que possa ameaça-lo, porem a grande “ameaça” é o próprio medo de fracassar e desistir dos sonhos e objetivos.
Após o brasileiro quais são seus próximos passos?
Agora final de ano vou descansar, curar as lesões adquiridas durante o treino do ano todo, e voltar em janeiro em 5000 rpm estou querendo me preparar muito, pois 2008 promete ser um ano muito bom, assim como os próximos, o futuro entrego nas mãos de Deus, e faço minha parte o melhor possível por aqui, com certeza vou conquistar muitos títulos, fazer carreira internacional, sul-americano, intercontinental mundial enfim quero e vou ser um vencedor, também tenho planos de voltar a lutar M.M.A, enfim fazer isso que eu gosto, treinar, lutar e trabalhar para que as lutas e lutadores em geral tenham o reconhecimento devido.
No mais muito obrigado pelo espaço, convido a todos para conhecer o nosso CT dentro do ginásio Mauro Pinheiro Ibirapuera.
Deixo um grande abraço e fiquem na companhia de Deus
Foto: Murilo Paolielo – Márcio Baptista