sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
Entrevista com Munil Adriano
Munil Adriano Jr. capturou a atenção de todos no meio das lutas ao aceitar um número grande de combates e mostrar sua evolução neles, o que aponta o seu futuro como um dos futuros destaques do vale-tudo mundial na categoria 67kg. Mesmo a derrota para Marcelo Giudici não impediu sua escalada.
O Chapolim de Bragança Paulista revelou sua entrada na Macaco Gold Team, detalhes sobre a última luta, eventos, política no muay thai e sobre o primeiro Munil Adriano, seu pai.
Você é Munil Adriano Jr. Descreva quem é Munil Adriano, seu pai?
MUNIL ADRIANO, o melhor pai do mundo!!! Acordava as 5/6horas da manhã para abrir sua mercearia, a qual fechava depois da meia noite, e assim era todos os dias. Trabalhador, honesto, enquanto ao mesmo tempo que era rígido e sério, possuía um humor fora do comum, fumante há cerca de 30 anos, quando largou o cigarro (por risco de morte), teve uma vira volta em sua vida, e passou a vê-la com outros olhos. Passou a ouvir JOVEM PAN, vestir roupas de “garotão”, começou a adorar sair em fotos e vídeos... Aprendeu a se amar. Nunca foi de beber, sempre deu aos filhos ótimos exemplos. Me criou dentro de um balcão, onde fez com que eu trabalhasse na hora certa, sem perder nenhum pouco da minha infância. Ótimo como filho, marido, irmão, amigo, tio... Maravilhoso como pai. Só tenho alegrias ao falar dele... Só lembranças boas. Nunca ergueu a mão contra mim, ou para minhas irmãs... Era engraçado, carismático... Enfim, se eu for falar mais... daria para escrever um livro.
Resumindo... Te amo meu pai, esteja onde estiver e obrigado por me deixar herdar seu caráter, sinceridade e honestidade (sei que o sr está vendo-me de algum lugar).
Qual foi o seu critério para escolher a música Vertigo do U2 como seu tema de entrada? O que ela te transmite?
Na verdade, essa musica, me chamou a atenção, não só pela letra, que é um incógnito, (risos) e sim mais pelo ritmo... Muitos lutadores entram com rap... Eu não gosto de rap, gosto de coisa alegre, feliz, que transmita coisa boa a todos, e U2, com toda certeza, traz isso. Suas musicas são enérgicas, contagiantes... Não é a toa que faz esse sucesso todo. E a Vertigo, quando eu vi o clipe e ouvi a musica (foi ao mesmo tempo), eu disse: “É essa mesmo!”. Quando eu a ouço, seja na rua, na academia, onde for eu lembro de luta, e me sinto como se estivesse minutos antes do combate, ali mesmo. É incrível, como esse papo de musica de entrada é importante. Acredito que são os últimos segundos de concentração máxima que o lutador tem, e acho isso muito importante.
Como é sua relação com Paulo Nikolai?
O mestre é meu treinador, só isso. Ele é amado por vários, e odiado por muitos. Podem falar o que for dele, porém, duvido que alguém ouse falar que ele é um mau treinador. Tem os seus defeitos, como todo mundo, mais para mim, não me importa o lado pessoal de ninguém, pois não tenho nada a ver com isso... O que me importa, é que o mestre entende muito de treinamento, e é isso que eu quero dele, e só.
Fora do tatame, o mestre tem um lado que muita gente desconhece, que é um homem com um coração maior que ele mesmo. Isso é um ponto positivo nele.
Você tem algum plano pra 2008?
Claro! Com esse ano de 2007 ‘movimentadíssimo’ para mim, ao todo foram 11 lutas profissionais sendo 9 vitórias, onde lutei tudo que apareceu, sem exceção, pois queria pegar muita experiência. Então lutei Muay Thai, MMA, e até uns campeonatos de Submission. Agora, 2008, é um ano de adaptação total, a coisa está seria demais para ficar me arriscando. Vou escolher bem os eventos que eu vou lutar, não quero aparecer muito como ano passado, agora, vou começar sem lutar janeiro e fevereiro... Vou descansar, sarar das lesões passadas, mais não ficarei parado não. Muito pelo contrário, focarei na parte de treinamento, em um novo Munil Adriano, lutando totalmente agressivo, com seqüência de golpes, afiadíssimo no Jiu Jitsu e treinando wrestling. Estou treinando MMA com o Macaco, e quero treinar wrestling para acrescentar ao meu jogo de quedas algo que falta. Anotem aí... Um 1º semestre de adaptação pura, e um 2º semestre de glória. É isso que eu espero.
Fora isso, em janeiro começo na minha academia nova, com uma estrutura muito melhor que a anterior, e em fevereiro será meu 2º Campeonato Regional de Muay Thai, o 1º teve 190 lutadores inscritos, portanto descansarei em partes, mais continuarei trabalhando muito, que graças a Deus, não consigo ficar parado.
Sua carreira no MMA trouxe a atenção de revistas como Gracie e Tatame. Acha que foi uma rápida ascensão?
De certo modo sim. Costumo dizer, que minha 1ª luta de MMA, teve uma repercussão maior que todas as minhas 31 de Muay Thai. Mas não tão rápida, pois estou indo degrau por degrau, afinal, nunca fui capa, apesar de sempre estar ali, nem que seja meu nomezinho, e era isso que eu queria com tantas lutas em 2007, por isso digo, que agora é hora lapidar-me, pois já consegui o que eu queria. Aonde vou, seja Brasília, Paraná, Vitória, Minas, Rio, sempre tem alguém que me conhece, vem falar comigo Meu objetivo não é ser famoso, mas sim, ser RECONHEÇIDO, PERCEBIDO, pois eu AMO LUTAR, amo o que eu faço, e sei que tenho um longo caminho pela frente!!! E mais... SEI que ainda trarei muito orgulho para todos que acreditam em meu trabalho e sempre transmitindo o bem.
No último Max Fight, você foi derrotado por Marcelo Giudici. O que ocorreu nesse combate?
Sabe (pensativo)... Eu não gosto de comentar sobre essa luta. Quando alguém pergunta “Como foi a luta?” eu digo simplesmente “perdi”, porque acho que quanto mais você fala dá a impressão de estar dando desculpas que não é meu objetivo. Agora, quando fazem uma pergunta como a sua, ou seja, pedindo MINHA OPINIÃO, eu não posso responder o que não acho. Então lá vai:
Para mim, ganhei a luta. Disseram que ele me deu umas quedas, tudo bem, porém eu raspei várias vezes, tá certo que eu não fui contundente não dei seqüência, entretanto ele quando me derrubava só estava anulando meu jogo, pois o mesmo não tentou uma só vez, buscar qualquer tipo de finalização, em nenhuma vez que me levou para baixo. Sendo assim, o jogo dele foi de DEFESA, então quer dizer, que se em todas as minhas lutas, eu cair na montada e segurar até o fim, serei campeão sempre? Não é isso que o publico quer, o publico quer ver porrada, ação e eu busquei isso. Na platéia, tinha vários alunos dele, senhores idosos com sua camisa.
Eu besta que sou achando que tava em vantagem, não o bati como deveria... segurei-me, para não desmoraliza-lo em sua cidade, visto que ele é um mestre lá há uns 20 anos. Pois esse foi meu erro. Esqueci que ele era de lá. Se eu não batesse muito, certamente ele iria ganhar, mas só lembrei disso, no fim do round. Ele, por sua vez no 3º round, só corria e batia no susto. Nem tentou me quedar. E os árbitros dão vitória a alguém que foi malandro? que conseguiu anular o outro? Me desculpe Giudici, nada contra sua pessoa, mas ou eu não entendo de lutas ou os árbitros não sabem o espírito do jogo.
Resumindo: O nome do jogo é “LUTA” e não “AMARRAÇÃO”, ou “ANULAÇÃO”. Mas olha, dias melhores virão! E estou aprendendo muito com essas “quebradas de cabeça”.
Há a possibilidade de uma revanche? O que pretende trabalhar antes dela?
Claro que há. Só não sei se ele vai querer. Olha, deixo o apelo aqui para todos os organizadores... Eu faço essa luta, por qualquer bolsa. Me entendam, não sou uma pessoa má, ou um mal perdedor, se eu tivesse sido nocauteado, ou finalizado, ficaria quieto...mas SEGURADO...foi barra. Ele não quis trocar, entendo, mas também não quis lutar no chão, só quis quedar para segurar.
Eu já comecei a trabalhar as melhorias para os combates de 2008, pois ao contrário de Giudici, segunda-feira feira (dia 26) após a luta, eu já estava inteiro, sem um arranhão, treinando duro, na terça-feira fui ao Macaco, com quem fechei uma parceria e estou indo lá toda semana, me senti em casa (um grande abraço a todos, estou muito feliz em entrar para a equipe). O Marcelo, dúvido que voltou a ANDAR facilmente!!!
Quero deixar claro que não tenho nada pessoal contra o Marcelo, nada mesmo... Muito pelo contrario, ele ganhou meu respeito, pois na minha luta, foi o contrario que muitos disseram dele. Foi amável, lutador de verdade.
Você é especialista em Muay Thai e tem treinado jiu-jitsu. Acredita que falta dominar alguma arte marcial para ser um campeão internacional de vale-tudo?
Como disse acima, meu jogo de quedas, pois um irmão meu, chamado Marcelo Fontana (apresentador do Último Round) me disse uma vez: “Muniiiil, treine wrestling... imagine, um striker como você, caindo por cima!!! Nem eu, com mais de 100kg, ia querer ficar por baixo!!!” Obrigado pela força de sempre Marcelão.
Mas olha, é promessa vou melhorar, estou treinando duro como nunca para isso e em breve vocês verão o resultado que querem, afinal, é por vocês que eu sempre luto.
Em alguns combates de Muay Thai jovens de 15 anos lutam contra homens maiores de idade. Para os médicos o adolescente está em formação física e psicológica. Você vê algum empecilho para esses combates?
Claro que sim. É por isso que têm as classes infantil, juvenil, adulto, máster, sênior. Se não fizesse diferença, nem existia isso. Realmente, uma criança de 15 anos, está em formação mesmo e não tem a mesma força de um adulto. Tenho vergonha de eventos ou professores que expõem suas crianças a essas situações absurdas. Tem uma equipe, que não citarei o nome, que tem 2 garotos que tem muito futuro, mais isso não acontecerá se continuar assim e eu já falei com o treinador, e ele diz: “imagine, é experiência”. Não gosto do método “apanhando que se aprende”, acho que não é preciso chegar a apanhar para aprender. Por isso, meus amiguinhos, se você passar por isso, procure um treinador mais adequado, pois se ele não te valoriza você deve valorizar-se.
Você um dos principais promotores de lutas no interior paulista. Se na capital já existem problemas para organizar um evento, quais são os obstáculos encontrados no interior?
Imagine Gabriel... Eu, um dos principais? Que é isso, com tantos eventos hoje em dia...fico lisonjeado por ouvir isso, mas eu lhe digo: Os eventos que faço, é simples e unicamente com o objetivo de ajudar o esporte a crescer de maneira honesta e direita. Meu evento profissional, o Coliseum Arena, não foi para dar de frente com nenhum, mas sim, para somar e em breve ele estará de volta. Só parou devido a quantidade de trabalho que estou tendo. E meu amador de Muay Thai, esse sim, é meu maior foco. Pois tenho uma grande influência nesse meio e usei esse poder, para reunir todos para competir entre si visando a evolução do muay thai nacional, pois acho que está carente de bons eventos. Agora, vou te contar uma coisa... Acho que no interior é muito mais fácil conseguir patrocínio, pois todos se conhecem, então... Muitos patrocinadores entram, por que sabem da índole do organizador, ou porque praticam. E tenho uma vantagem, de Bragança Paulista ser super perto da capital (70km), então, é certeza de público, lutadores, patrocínios...
Qual carreira é a mais difícil: organizador de eventos ou lutador?
‘Puuuxa’, agora você me deixou em duvida. Acho que é a de organizador, pois muitos não dão o valor para a pessoa, acham que estão no evento para ajudar o organizador, o que eu acho o contrário, tanto no amador quanto no profissional, o promotor é o patrão. Então, ele que está dando a cara a tapa, ele que está investindo, arriscando. Se o evento não der o retorno esperado, quem arca com os prejuízos é ele, agora se uma decisão é contestada, é culpa do organizador, se quebra alguma coisa, a culpa é do organizador, e tudo é ele também, resumindo, o que parece mil maravilhas, na verdade, quem se ferra sempre é o organizador (risos).
Por isso, sempre que luto respeito muito o mesmo, e procuro ir bem vestido, alinhado, com presença boa, porque na verdade, o evento é minha profissão, e o organizador, o patrão e sem ele, não tem lutas, dinheiro, e nada.
Queria deixar um grande abraço a você, Gabriel, pois você é um grande intelectual da luta e faz um excelente trabalho em torno disso, meus parabéns. E mandar um beijão a todos(as) meus fãs, amigos, e pessoas que estão sempre torcendo por mim, pois quando ganho pulam comigo e quando perco sentem comigo.Também gostaria de dizer ao Brasil inteiro, que sou orgulhoso desse povo acolhedor, pois aonde vou, sou muito bem recebido com muito carinho.
Foto: Gleidson Venga - Portal do Vale-Tudo / Munil Adriano em pé contra Marcelo Giudici no Max Fight IV