quarta-feira, 8 de julho de 2009

Entrevista com Samir Santos

Foto: Samir golpeia um adversário / Arquivo Pessoal

Samir dos Santos Barbosa é conhecido no meio do boxe apenas por seu primeiro nome que é de origem árabe. O gaúcho de 29 anos é treinado pelo ex-campeão mundial Miguel de Oliveira em São Paulo, mas seu começo foi humilde treinando em um local improvisado pelo próprio e acompanhando os movimentos em fitas VHS que copiava de programas esportivos. O rapaz já conta com disputas internacionais e revela as dificuldades do lutador nacional para vencer no exterior e fala de seu projeto social para a inclusão social de crianças.

Samir como foi seu início no boxe?

Bem pequeno aos 5 ou 6 anos assistia com meu pai lutas de pugilismo, ficava muito empolgado e sentia o mesmo com os filmes de Rocky "Um Lutador". Comecei a treinar na minha cidade (Rio Grande) outras artes como boxe tailandês, luta livre, tae kwon do e várias outras artes marciais esperando por um professor de boxe na cidade que na época não havia, então comecei a comprar os materiais do esporte, amarrei um saco na árvore de casa e depois gravava as lutas para imitar os golpes, passos e esquivas. Assim fui treinando e lutando não oficialmente em academias e eventos de lutas. Segui para a capital (Porto Alegre) me filiei na federação em 97, comecei a lutar oficialmente boxe amador e fiquei 4 anos na seleção gaúcha com 4 campeonatos brasileiros para me profissionalizar em 2001.

Como surgiu o apelido “Quebra Tudo”?

Um jornal começou a divulgar alguns nocautes dando ênfase ao meu nome como “Quebra Tudo” e então pegou.

Quem são seus ídolos no esporte?

Pela trajetória no ringue Mike Tyson, porém pela história dentro e fora do esporte e também como pessoal o treinador Miguel de Oliveira.

Quais são as dificuldades que você encontra no esporte?

O patrocínio é a dificuldade comum entre esportistas, mesmo no momento tendo um patrocinador como a Uninersidade Ítalo Brasileira, mas além disso acho que a falta de bons promotores de lutas brasileiros e a presença de maus empresários também nacionais que não trabalham com seriedade ou respeito aos atletas que não conseguem seu ganha-pão.

Qual é a situação atual do pugilismo no Rio Grande do Sul?

O boxe amador sempre teve muita força, enquanto, o profissional não faz parte da cultura local. Estamos trabalhando bastante em cima disto,trazendo lutas nacionais e internacionais para serem disputadas no estado com o intuito de fomentar e fortalecer o boxe de forma geral na região.

Você empatou em duas oportunidades com Jeferson Luis Gonçalo. Pensa em enfrentá-lo mais uma vez para definir quem é o melhor?

Sinceramente gostaria muito, mas a questão não é quem é o melhor. Ele sabe que perdeu as duas lutas e a última quase unânime, porém o problema é o interesse político que há por trás, como já falei há maus empresários e pessoas que não trabalham com seriedade. O promotor das duas lutas era empresário ou cuidava das lutas dele na época e chegou a me propor uma terceira luta contra Gonçalo por título brasileiro, não aceitei porque lutaria 10 vezes e dariam empate ou me levariam a vitória no tapetão. Gostaria muito de lutar contra Gonçalo em terras gaúchas aceitando; 1 jurado gaúcho, 1 paulista e 1 neutro, mesmo assim faria uma luta para vencer por nocaute para não ter a desculpa que só ganhei por estar no meu estado, lembrando que respeito muito ele por isto, pois fiz nas duas lutas um trabalho por pontos sabendo que era um adversário forte. Agora seria diferente por querer mostrar a ele e aos seu amigo quem realmente venceu as duas primeiras.

Em suas disputas no exterior você foi derrotado pelo camaronês Hassan N’Dam N’Jikam, pelo armênio Khoren Gevor e pelo alemão Sebastian Zbik. O que explica seus resultados em solo estrangeiro?

Bom vamos por partes. Na 1° luta com Zbik era disputa de título intercontinental em 12 rounds e me avisaram 2 meses antes. Como tem que ser com quaquer luta profissional (principalmente de titulo e internacional) fiz 12 rounds batendo e se tivesse mais 4 assaltos eu agüentaria, por estar muito bem física e taticamente além de preparado e após a luta vimos vários comentários que só perdi porque estava lutando na cidade e país dele. A 2° me avisaram 2 semanas antes também cheguei ao final da luta bem e não levei, na 3° me avisam exatamente 9 dias antes, então, fica difícil porque cada vez vai aumentando a dificuldade dos adversários e diminuindo o tempo de preparação, então o resultado fica sempre com uma porcentagem bem mais favorável para o local. Já na saída do Brasil, nós vamos só tentar a vitória, porque a derrota já esta na papeleta deles.

O que tem sido feito para superar essa dificuldade?

O que sempre fiz e sempre faço independente de ser final de ano ou datas comemorativas é treinar e manter sempre em boa forma, porque vejo o dia que vão me ligar e dizer amanhã você luta e tenho que estar preparado.

Em sua visão houve favorecimento dos árbitros para esses três oponentes? Parece discurso de quem perde mas sim,não vão me levar para o outro lado do oceano cm tudo pago para eu ir comer o bolo da festa deles ...

Se as lutas fossem no Brasil acredita que o resultado poderia ser diferente?


Por vários motivos sim, entre eles fuso horário, tempo para treinos e descanso para as lutas, porque muitas vezes você viaja horas e não consegue descansar o tempo necessário para repor a musculatura para o dia da luta.

“Punhos da Esperança” é o nome de seu Projeto Social. Explique essa iniciativa:

Punhos "de" Esperança. De forma geral todos reclamam de ninguém nos apoiar em nada, penso assim mas penso também naqueles que eu posso apoiar de alguma forma, pois o projeto é uma maneira de resgatar crianças que estão em áreas de risco com drogas e criminalidade. Apesar do pouco de nome que temos e o poder político do esporte buscamos conseguir incluí-las socialmente através do boxe.

Quais foram os resultados obtidos?

Já tivemos vários resultados de menores que nos procuram e fogem dos males das drogas e crime e como falamos no projeto: se de 100 crianças que passarem pelo projeto 1 se tornar atleta, bom. Mas o importante é as 99 terem uma confiança na vida para terem suas famílias buscarem trabalho e se tornarem bons cidadãos.

Quais foram suas maiores alegrias que o boxe lhe deu dentro e fora do ringue?

Uma foi a realização de poder lutar dentro de um ringue como os antigos heróis que eu assistia em grandes lutas... A oportunidade que tenho de trabalhar e poder ajudar estas crianças com o projeto e de através desta longa jornada de lutas com vitórias e derrotas, e claro ter conhecido minha esposa.