quarta-feira, 4 de julho de 2012

Entrevista com Emerson Naja

Emerson Naja (foto: Geremia Photography)

Quando era apenas um menino de 10 anos, Emerson Ricardo Ábila ensaiava seus primeiros socos e chutes na ainda desconhecida mundialmente academia Chute Boxe de Curitiba nos treinos de Muay Thai, era o ano de 1987, antes do surgimento do primeiro UFC em 1993.

O garoto cresceu, se tornou famoso como Emerson Naja e conquistou seguidores, hoje aos 37 anos tem em sua filha Julie Eva Naja a sucessora de seu legado. Entretanto acaba expondo a própria saúde em combates de boxe e Muay Thai pela necessidade de dinheiro.

Na última sexta-feira (29/06) esteve no Paraná combatendo o pugilista o meio-pesado (79,4 kg) Marlos Simões, sendo que na terça-feira da mesma semana fora nocauteado pelo pesado sul-africano Thabiso Mogale em São Paulo. Naja fala dessas e outras situações que muitos atletas brasileiros podem estar vivenciando, mas sofrem em silêncio.

Como foi o início nas artes marciais?

Comecei aos 10 anos de idade no Muay Thai em Curitiba na academia Chute Boxe, em 1987. Me mudei para Santos (SP) em 1993, onde não existia Muay Thai. Alguns anos mais tarde me envolvi com o pessoal do Boxe Memorial na mesma cidade e comecei a treinar para fazer minha estreia no boxe amador no campeonato paulista onde em 1999 na primeira luta obtive nocaute com 10 segundos. Meu treinador na época era Marcos Duarte.

"Aceito adversários mais pesados por falta de oportunidades e por quê preciso lutar para sobreviver... Sou lutador e preciso de dinheiro".

Em qual categoria atua? Por quê aceita adversário de diferentes pesos e em curto espaço de tempo?

Meu peso sempre foi 81 kg. Mas nunca lutei nessa categoria, sempre lutei contra adversários muito mais pesados. Aceito adversários mais pesados por falta de oportunidades e por quê preciso lutar para sobreviver... Sou lutador e preciso de dinheiro.


Na terça-feira 26/06 você lutou e perdeu por nocaute diante de Thabiso Mogale em São Paulo e depois na sexta-feira encarou o meio-pesado Marlos Simões em Curitiba. O que pode dizer de ambas lutas? Você fez exames ou se consultou com um médico entre um combate e outro?

Olha... Lutei contra o africano em cima da hora, preciso de dinheiro e não pude recusar. Me falaram que ele era fraco, então aceitei. Porém a diferença de peso era muito grande, 12 kg. Quanto a luta contra o Marlos Simões, eu acho que se eu não tivesse vindo da luta contra o africano à apenas 3 dias eu o teria vencido.

divulgação

Em evento de kickboxing na Argentina você foi apresentado no cartaz como Abdul "La Cobra" Ranmhemavo. Por quê lutou com outro nome?

Lutei em Buenos Aires contra (Jorge) "Acero" Cali, título mundial WKN (World Kickboxing Network) de kickboxing. O que me falaram foi o seguinte que confundiram Ábila com "Abdul", que "Naja" é o mesmo que "La Cobra" e "Ranmhemavo" significa "matador", quando cheguei lá já tinha o cartaz. Nessa luta rasguei a canela no 3º round após um bloqueio.

"O Box Record é uma fraude".

Gonzalo "El Patón" Basile (esq.) e Emerson Naja (dir.) / (foto: arquivo pessoal)

Há no seu perfil de Facebook uma foto da luta contra o pesado argentino Gonzalo "El Patón" Basile, porém a mesma não aparece em seu cartel no BoxRec. Quando e onde foi este combate? Você lutou com outro nome?

Lutei sim contra o gigante argentino "El Patón" Basile de 130 kg e 2,05m. Perdi por pontos após 4 rounds, luta muito dura. E também fiz um combate em Possadas na Argentina, mas esqueci o nome do oponente, também era pesado.

Eu tenho 26 lutas de boxe e somente 8 estão no Box Record. 16 eu venci, 10 eu perdi sendo que destas foram para adversários com no mínimo 10 kg mais pesados: Pedro Otas, Gaspar (Julio Cesar dos Santos), Thabiso Mogale, Marcelo Ferreira, "El Patón" Basile.

As 2 únicas lutas que fiz na minha categoria, 79,4 kg, foram contra Cleiton Conceição onde perdi por pontos 39-38 e a revanche que perdi por desistência com a mão fraturada. E agora contra o Marlos...

Emerson Naja (esq.) e Marcelo Ferreira (dir.) / (foto: arquivo pessoal)

Você já lutou boxe com outro nome?

Eu não lutei nenhuma luta de boxe com outro nome, sempre usei meu nome: Emerson Naja. O Box Record é uma fraude.

Teme expor sua saúde aceitando tais combates?

Com certeza, estou expondo minha saúde... Lutar quatro vezes em um mês foi por necessidade mesmo. Espero ainda conseguir um apoio e um técnico que me dê oportunidades reais de lutar e vencer.

Crê que agentes que o procuram para seus combates se preocupam com sua saúde?

Eu acho que os agentes que me procuram não estão nem aí para minha saúde ou coisa parecida, só estão pensando no show. E me procuram porque sabem que o Naja aceita lutar contra qualquer um. Mas não... agora vou me preocupar com a saúde e procurar lutas no meu peso. Vou subir meu peso para 93 kg e quando isso acontecer vou atrás de revanches.

"Os agentes que me procuram não estão nem aí para minha saúde".


Emerson Naja (frente) tendo o maxilar quebrado durante luta / (foto: reprodução)