sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Entrevista com Mestre Junior



"Eu tenho minha maneira de pensar, e gosto de manter meus atletas ao meu lado. Sou meio paizão com eles..."

Com sua aparência humilde e sempre citando Deus em suas falas poucos suspeitam que Antonio Carlos Lopes Junior, mais conhecido como Mestre Junior é um hábil lutador de muay thai que virou técnico de nomes reconhecidos como Givanildo Santana, Fábio Negão, Allex e Maycon Oller.

Aos 42 anos de idade de uma vida iniciada nas lutas na tenra idade de seis anos, Mestre Junior conta seu começo, suas glórias e como é ser uma figura paterna para homens que muitas vezes são vistos como máquinas de bater. Também nesta entrevista ao Córner do Leão fala de um assunto que poucos conhecem: sua fé.

Como foi seu início nas artes marciais?

Bom, comecei nas artes marciais aos seis anos de idade com meu pai no boxe e com meu tio na capoeira, depois com o decorrer dos anos ingressei no hapikido e depois me iniciei no muay thai em 1983 na academia Ilha do Muay Thai com o Mestre Moisés Ranieri que hoje vive na Europa. Com o tempo fui pro full contact e kickboxing também porque eram na época mais difundidas, e havia eventos para lutar.

Fiz minha primeira estréia nos ringues aos 13 anos de idade no boxe, treinei muito no antigo CMTC (Centro Municipal de Transporte Coletivo que mantinha o clube da prefeitura de transporte), meus treinadores de boxe eram Sr. Arlindo Vieira e Vitor Ribeiro pelos quais fiz muitas lutas e disputei muitos títulos. Também conquistei títulos no muay thai como Brasileiros, Paranaenses, Sul-americanos e muitos outros tanto no full contact quanto no kickboxing.

Você defende o Muay Thai. Por que acredita tanto nessa luta?

Eu não só defendo o Muay Thai, como defendo todas as modalidades existentes. Eu não só acho como tenho certeza, que o muay thai é a arte mais completa e isso já foi provado mundialmente, pois utiliza todas as combinações de golpes. Se você tentar casar uma luta de profissionais de alto nível, tanto de full contact como de kickboxing contra um lutador de thai, dificilmente estes conseguirão derrotar o lutador de muay thai, porque ele usa muito as técnicas de clinch com joelhadas e arremessos com utilizações de chutes ou outros golpes que um lutador de full ou kick não estão acostumados, enquanto o muay thai tem muita contundência em seus golpes, Eles agüentam muitos golpes e só andam pra frente, isso complica os adversários... Aqui no Brasil já houve épocas que se utilizavam as cotoveladas, eu já lutei nas regras asiáticas.

Bom o Murilo (Paolielo) é um rapaz que gosto muito, e ele tem o direito de pensar da maneira que queira e jamais vou dizer que ele está certo ou errado. É só tirar uma base na procura pelo muay thai, todos os lutadores de MMA fazem o thai porque sabem que irão encontrar mais condições técnicas de subir ao ringue. Então acho que não devemos ficar dizendo que o muay thai só é bom lá fora, ele é ótimo em qualquer país independente de se utilizar os cotovelos ou não. Sempre será uma arte respeitada, por isso que é milenar... Vamos trabalhar mais e deixar as conversas pra depois...

Você já chegou a lutar boxe inclusive em arenas internacionais. Qual foi o momento mais importante dessa experiência?

Todos os momentos de minha carreira como atleta são importantes, fiz lutas na Europa e na América. Uma luta que marcou em minha vida foi em 1993 em Las Vegas, em um cassino que na mesma noite que lutei com o americano Mark Johnson na categoria 62.200 kgs e me sagrei campeão (WIAB – World International American Boxing) no 2º round por nocaute. Mas infelizmente o Maguila perdeu nesta noite, para o grande campeão mundial de boxe peso pesado Evander Holyfield por K.Oe isto me deixou triste... Mas valeu por ele ter sido um grande lutador também, eu cheguei a fazer no total de 186 lutas, com 174 vitórias e 125 por KO e 12 derrotas, mas graças a Deus nenhuma por nocaute, fiz mais de 100 lutas amadoras.

Em entrevista ao Córner do Leão no dia 19 de dezembro de 2007, o campeão brasileiro de kickboxing Murilo Paolielo afirmou: “Como eu digo muay thai está na Tailândia, onde se luta muay thai aqui? Com regras asiáticas?”. O que você pode dizer sobre essa observação?

Sim ele esta certo em dizer que o muay thai está na Tailândia, tanto que é de lá que veio para o mundo todo. Acho que o certo em dizer seria que em muitos paises não se luta o muay thai nas regras asiáticas utilizando cotoveladas, mas a única coisa é essa não utilizar os cotovelos, porque o resto é utilizado como clinch, joelhadas e arremessos nas cordas com utilizações de golpes. Muitos dos atletas fazem o ritual, mas se o Brasil libera-se as cotoveladas seria ótimo porque eu ensino meus alunos as regras completas e fazem até combates utilizando os cotovelos e tudo o que tem direito no muay thai, mas cada um tem a sua opinião e como diz o ditado: “Gosto não se discute”... E respeito a opinião de todos, o que seria do azul se não fosse o amarelo né?... (risos)

No seu tempo de atividade dentro do ringue você cogitou participar de lutas de vale-tudo?

Sim. E lá em cima nas perguntas citei sobre isso, resolvi em 1994 estrear no vale-tudo mesmo sem saber jiu-jitsu e utilizando o que aprendi no hapikido fiz três lutas no dia e fui vice-campeão! Em 1995 novamente entrei nos ringues decidido a ser campeão, e fiz três lutas e novamente me o sagrei vice-campeão. No mesmo ano o Mestre Norberto do hapikido, tinha me visto lutar e gostou do meu estilo agressivo por me convidou para o seu evento no Ginásio da Portuguesa, o Free-Style no qual fui campeão para mim foi uma honra e felicidade realizar um sonho. O Mestre Norberto também ajudou na organização do UFC Brasil.


Você treina atletas de vale-tudo como Fábio Negão, Givanildo Santana e Endo Makoto. Os três são grapplers por natureza, quais dificuldades cada um passou para aprender a trocação?

Bem eu sempre treinei alguns graduados da Lótus Clube e eles sempre comentavam com o Fábio Negão e que gostariam de trazê-lo para minhas aulas porque ele tinha um grande potencial e tudo mais... Mas isso ficava só no assunto e em 2005 um grande amigo meu e faixa preta da Lótus professor Joaquim trouxe o Negão e o Endo Makoto para fazerem um treino, e eles gostaram muito além de terem de aprender trocação em um mês e meio, pois logo estreariam no Show Fight III, então eu disse a eles vou treiná-los para sobreviverem em pé e não para serem campeões na trocação. E exigi que fizessem tudo o que eu dissesse, começamos assim: de segunda, quarta e sexta corrida às sete horas da manhã e depois iríamos para academia treinar boxe, terça e quinta muay thai, e foi assim que treinamos muito a parte em pé e eles aprenderam rápido tanto que fiquei até surpreso com a evolução.

O negão eu tinha certeza que sairia vencedor e treinamos muito naquele mês tanto que veio a vitória pelo grande sacrifício nosso. Com isso fui convidado a fazer parte da equipe Lótus Team M.M.A que hoje sou um dos responsáveis pela equipe juntamente com o Raul.

O Giva foi também aprende muito fácil, pois é um grande atleta com capacidade rápida para o aprendizado, então a galera toda se saiu muito bem nas lições em pé... Tenho muito orgulho de ensiná-los.

Falando em Makoto, este lutador passou por derrotas e demorou para reencontrar as vitórias que o caracterizavam no Japão. O que ocorreu com seu pupilo?

Então... O Makoto não deveria ter feito sua estréia contra o Cláudio Godoy por três fatores: primeiro diferença de peso, segundo pouco tempo morando no país e em terceiro a grande experiência de Cláudio. Sabemos que esta derrota para o Endo foi forte e difícil para se recuperar porque ele treinava bem, mas na hora de lutar não tinha mais confiança, porém o trabalho que fizemos com ele valeu muito a pena, já que ele voltou aos ringues com grande confiança e se sagrou campeão no Predador Kamae 7de Itu no interior paulista e este ano se Deus quiser ele terá mais vitórias.

Você é treinador de Allex e Maycon Oller, como se deu a evolução de ambos? O que podemos esperar o que em 2008?

Bom os meninos são meus primos, eu por ser treinador deles imponho disciplina e respeito e isso é para todos os meus atletas. O Alex tem muito tempo de carreira, 17 anos de treino e o Maycon foi uma revelação porque ele via o irmão lutar só pelas fitas, mas não ia assistir e logo depois de uns anos ele resolveu treinar comigo, e eu disse a ele: “Você quer treinar só para aprender ou ser um lutador?”, então ele respondeu: “Quero só treinar, nada de lutas”.

Com seis meses ele estreou nos ringues fazendo três lutas e sendo campeão brasileiro pela ISKA, então não parou, ganhou vários títulos nacionais e internacionais, hoje ele é considerado um top na modalidade. O Alex já fez várias lutas internacionais também fez uma grande luta na Suíça pelo titulo mundial de kickboxing, sendo 12 rounds e deram a vitória para o atual campeão mundial Cerdan Oliver pela WKA, ISKA, WKN e outros títulos que ele tem. Mas o Alex bateu os 12 assaltos e todos viram que ele ganhou a luta, mesmo assim deram para o oponente por meio ponto. E isso não existe, tanto que o organizador do evento veio e levantou a mão do Alex e a platéia o aplaudiu de pé, foi maravilhoso!

Ele também fez várias lutas de K-1. Eu tenho muitos atletas de thai bons, e que ainda por cima são campeões.

Acredita que o técnico pode ser uma figura paterna ou deve manter tudo no campo do profissionalismo?

Eu tenho minha maneira de pensar, e gosto de manter meus atletas ao meu lado. Sou meio paizão com eles (risos), todos vêem a mim se desabafar e pedir conselhos e eu estou pronto para isso, mas na hora de puxar as orelhas é comigo mesmo e todos tem de saber dividir as coisas. Se eles escolheram a profissão de lutadores, tem que honrar e ir até o final, mas quando precisam de mim estou pronto pra ajudá-los na medida do possível e quero que eles também tenham responsabilidades no trabalho. Enfim sou meio paizão e treinador (risos).

Uma característica que poucos sabem é de sua fé. Como a encontrou? Que benefícios te trouxe?

Sou cristão e honrado! Por isso desde pequeno vou à igreja para adorar a Deus! É nele que encontra paz, força e segurança para fazer tudo que faço em minha vida não posso deixá-lo.

Quando um filho tem tudo o que quer, porque seus pais te dão é a mesma coisa, tenho tudo com meu Deus, por que vou sair de casa? Ele me atende nas horas boas e ruins, está sempre do meu lado. Por que sairia de lá? Agradeço a ele por tudo em minha vida, a minha família, meu trabalho no qual encontro muitas pedras pela frente e a vocês que são muito importantes para mim como amigos, sou feliz por tudo que tenho e pelo que também não tenho, porque meu Deus sabe das minhas necessidades.

Alguns lutadores expressam fortemente sua fé em entrevistas, entrada de lutas, camisetas. O que acha disso?

Acho que cada um expressa de maneiras diferentes e respeito isso. O importante é ter Deus no coração e seguir seus mandamentos e não o do homem... Eu expresso meu amor a Deus orando todos os momentos de minha vida, agradecendo sempre por tudo e por todos, pois é assim que me expresso em um cantinho só com ele...

Acredita que alguns usem apenas como marketing pessoal?

Olha, Deus sabe o que se passa no coração do homem, se ele fizer isso espero que não pense que ficará impune, pois a cobrança virá e será dura... Então acho que todos nós devemos respeitar a Deus acima de todas as coisas...

Quero agradecer a todos e que Deus esteja com todos agora e sempre.
Amo todos: minha família, meus amigo, inimigos e principalmente ao nosso senhor maravilhoso Deus... Amém.

Foto: Arquivo Pessoal