sábado, 19 de janeiro de 2008
O grande dia de Ramones
Nem sempre o dia mais feliz de um atleta é quando o cinturão vai para sua casa
A academia bem estruturada mostra o respeito pelos alunos que se juntam ordenadamente no tatame conforme a hierarquia. Os professores a frente do grupo assim como todas as outras equipes que se respeitam. No colo de uma faixa-preta um bebê com seu quimono, é o possível primeiro campeão da união.
As graduações seguem e cada aluno promovido é lembrado por detalhes pessoais o que mostra a intimidade, entre eles uma jovem que chora ao receber do professor a faixa branca com duas pontas, uma graduação que não a leva para uma faixa melhor, mas como a mesma afirma: “achei que não fosse graduar, isso é minha evolução, passei por um ano difícil”. A lágrima corre como a de um campeão no qual apenas o empresário acreditava, pois ele mesmo não tinha fé.
“Fenomenal! O cara consegue administrar a carreira de atleta e ser professor”, um amigo de infância faixa azul que reencontrou o lutador nos tatames após dez anos fala com emoção e alegria nos olhos e lábios.
Para esse estudante que mantém uma marca de roupas esportivas, o Ramones não foca em aparecer na mídia e ser estrela de campeonato, mas sim em formar líderes. Com essa preocupação voltada para a filosofia de uma arte que parece ter amnésia quando escuta essa palavra, Ramones escuta que não será mais um atleta que deveria desistir de competir por estar velho aos 27 anos de idade.
“Ele se acha pouco maturo para enfrentar grandes nomes, porém se focar neles, vence.” O empresário que acompanha o mundo do jiu-jítsu fala com domínio e concluí: “Esse vai ser o ano de concretização”.
Enquanto conversamos o mentor continua observando as técnicas de seus alunos, sabe o que exigir desde o pior até o melhor deles, já que pode “crescer tanto com os bons quanto com os pequenos”, e não ensina apenas técnicas, pois “além de sua evolução no jiu-jítsu, você evoluí na vida”. A vivência de seus tutorados sofrem mudanças positivas assim como no jogo de xadrez humano.
O proprietário do recinto o chamou “por ser amigo de infância”, mas não apenas isso, por ser também compromissado, atencioso e ter “alto potencial para despontar como competidor além de ser ótima pessoa dentro e fora do tatame”.
Apesar de ensinar fora da academia onde se formou, Ramones permanece leal a suas origens assim como um soldado yakuza respeita seu oyabun, agora ele está apenas formando o seu clã. Para ele a arte marcial não é como o futebol onde cada dia se beija um escudo diferente após o gol e se cospe em outro após a derrota.
O semblante é de uma pessoa mais sábia do que aparenta, algo raro de se ver em homens antes dos 40, quando perguntam se há mágoa da sua casa e de alguns que lá freqüentam mas não são seus amigos afirma: “Se é pra ser campeão vou ser tanto na Brasa quanto na Lótus. O campeão se faz em qualquer lugar”.
Foto: Ramones de quimono Branco ao centro / Gabriel Leão
Nota do Editor: Yakuza, máfia japonesa que valoriza a honra.
Oyabun, líder de uma família dentro da yakuza.