segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Entrevista Letícia Rojo

Letícia Rojo / Fotomontagem de André Phellipe


A médio-ligeiro Letícia Rojo estreou no boxe em 2006 disputando o cinturão brasileiro contra a campeã Duda Yankovich e seguiu por 2 anos numa carreira de altos e baixos, mas que mostrava sua evolução nos tablados com um cartel de 3 vitórias, sendo 2 por nocaute e 4 derrotas.

Há mais de um ano Rojo não sobe aos ringues, apesar de aparecer constantemente na mídia quando são feitas matérias sobre boxe feminino. A atleta fala ao Córner do Leão quais os problemas que o pugilismo feminino enfrenta e o que tem feito nesse período de ausência.


Você está mais de um ano sem subir no ringue. Por quê dessa ausência?

Infelizmente estou sem lutar por falta de oportunidades por aqui, tenho recebido algumas proposta de lutas para fora do Brasil, mas meu técnico e eu queremos fazer algumas lutas no Brasil antes de ir pra fora novamente, não estamos afim de ser escadinha de ninguém e sabemos que para lutar lá fora, precisamos estar em um ótimo ritmo de combates. Não estamos conseguindo isso no Brasil. Aqui não temos eventos de bom nível para o boxe e os que aparecem não querem nem pagar bolsa para os atletas profissionais. Um descaso enorme com quem tanto se dedica para a profissão!

Seu cartel varia entre vitórias e derrotas. Ao que se deve essa inconstância?

Inconstância da própria luta, realmente lutar é isso... Ganhar, perder, empatar e evoluir sempre... Aprendemos muito mais com as derrotas do que com as vitórias, o verdadeiro guerreiro conhece o valor da derrota. Só não perde quem não luta ou quem escolhe a dedo os adversários que quer lutar!

Você acredita que a escolha de suas adversárias não a favoreceu?

De forma nenhuma, lutar com duas campeãs mundiais é um orgulho pra mim. Acredito que todas minhas adversárias me favoreceram, foram fonte de minha inspiração e dedicação aos meus treinos, agradeço a cada uma delas por terem me instigado a treinar com mais vontade. E pela experiência adquirida em cada um desses combates.

A maior parte de seus combates foi no Brasil com exceção de sua última luta que foi no Uruguai contra Chris Namus. Quais são as diferenças de lutar nesses dois países?

É muito diferente, porque aqui normalmente nós já conhecemos a adversária, sua equipe e mais ou menos já sabemos o que esperar. Quando se luta lá fora é uma caixinha de surpresa, porque é tudo feitos nas costas e existe uma rivalidade enorme entre os países. É uma luta pra matar ou morrer e se você não estiver preparado para isso, não passa do primeiro round. Isso sem falar da arbitragem, que sempre desfavorece quem vem de fora, quando se faz uma luta em outro país precisa ganhar por nocaute, porque por pontos jamais se ganha a luta. E também existe o lado do psicológico, por que lutar com todo o ginásio contra você não é uma coisa fácil. Outra principal diferença é que no Uruguai o Boxe é o segundo esporte do país, portanto o atleta é bem valorizado e cheio de eventos para fazer sua carreira, agora no Brasil, é lastimável falar do assunto

Como é a atuação de Sérgio Batarelli como empresário?

Hoje Sérgio Batarelli, está voltado para o boxe masculino e para o MMA, o boxe feminino foi deixado de lado. Foi esquecido.


Larissa Rojo / Divulgação


Sua irmã Larissa Rojo também é pugilista. Como tem sido o progresso dela? Vocês treinam juntas?

Minha irmã teve algumas lutas, porém devido a falta de bons eventos está desestimulada com o boxe. O Brasil não tem grandes nomes no boxe por quê não tem a menor vontade de apoiá-los, pior ainda para o boxe feminino. De vez em quando, minha irmã e eu fazemos treinos juntas, mas devido a rotina e a correria de cada uma, mal conseguimos nos ver durante a semana.

Quando você estreou em 2006 o boxe feminino recebia muita atenção da mídia. Você ainda colhe algum fruto daquele período?

O boxe nunca recebeu a atenção que merecia, hoje menos do que antes, mas não muda muita coisa. Os atletas continuam precisando ter carreira múltipla pra se manter. Sempre precisei trabalhar e dar aulas, por que viver do boxe é uma coisa impossível no Brasil. O maior benefício da exposição na mídia é o reconhecimento do meu trabalho, a valorização que algumas pessoas me dão e o prazer de ser reconhecida e apoiada.

Como é o tratamento da mídia para a mulher que pratica boxe?

A mídia sempre me apoiou bastante, já participei de muitos programas de televisão falando sobre o boxe. No geral a mídia quer mostrar uma mulher feminina que luta boxe e que não perde sua feminilidade por ser boxeadora. Já as meninas mais masculinizadas não têm o mesmo apoio e nem o mesmo espaço. Porque querem ver mulher lutando boxe e não mulher que mais se parece com um homem em cima do ringue.

No boxe nacional as mulheres são valorizadas?

Aqui no Brasil é uma piada, esporte por aqui é futebol e também só o masculino, porque o futebol feminino não tem o mesmo apoio. Agora imagine para o boxe, um esporte totalmente esquecido. É triste falar isso, mais o Brasil nem merece os atletas que tem!