segunda-feira, 28 de maio de 2012

Entrevista com Francisco Paco Garcia

Lino Barros (esq.) e Francisco Paco Garcia (dir.) / (Foto: Arquivo Pessoal)

O técnico Francisco Paco Garcia já passou pela seleção brasileira tendo sob sua tutela atletas como Marcelino Novaes, Washington Silva, Cleiton Conceição, Kelson Pinto e Lino Barros com quem desenvolveu um trabalho longevo que migrou para o profissionalismo.

O professor cubano conta como é a vivência de boxe na ilha caribenha, fala do trabalho que vem desenvolvendo no Clube Palmeiras e aponta suas expectativas para os Jogos Olímpicos de Londres este ano nesta entrevista além do que espera de Lino Barros quando enfrentar Julio Cesar "Gaspar" dos Santos, dono do cinturão latino da Organização Mundial de Boxe (OMB), versão cruzadores, no final de junho.

Como foi seu início no boxe?

Comecei a praticar boxe em uma cidade do interior, na província de Villa Clara, convencido por um amigo que praticava pugilismo na época, fui selecionado para participar de uma escola na província de Santis Spiritus. Ali permaneci até a adolescência, e tive de sair por pertencer à outra província. Participei de vários eventos e aos 20 anos parei por ter machucado o ombro. Fui chamando junto a outros ex-atletas para fazer um curso de professor de Educação Física e depois fui chamado para cursar a Licenciatura onde me formei, com especialização em boxe, curso ministrado pelo Professor Pedro Luis Diaz, tendo minha tese publicada em uma revista científica de esporte cubana, comecei a trabalhar na cidade de Placetas. Conforme os resultados fui promovida para a EIDE provincial de Villa Clara e posteriormente foi alçado para a academia de boxe de adultos da mesma região e por estes resultados fui escolhido para cumprir missão profissional aqui no Brasil.

Sendo você de Cuba, uma potência do pugilismo, quais pontos acredita que o Brasil deveria ter como exemplo da ilha caribenha?

Penso que o Brasil deveria começar um trabalho desde a base com planejamentos para obter metas, pois sem planejamentos não existem metas. Preparar professores qualificados que hoje tem no Brasil e ensiná-los a trabalhar com essas categorias de base, com objetivos concretos para cada idade e os campeões surgiriam como os jogadores de futebol, ou seja, a pirâmide de alto rendimento é muito fácil de aplicar neste país que é uma mina inexplorada.

Quais passagens como técnico da seleção brasileira o marcaram?

Como técnico da seleção talvez seja difícil falar para você de coisas que me marcaram, agora posso dizer de coisas mais positivas que me aconteceram que foram depois de sair da seleção e as oportunidades de me entender com os atletas depois de sair porque foi com dificuldade que entenderam meu pensamento, mas com o passar do tempo recebi de muitos deles a satisfação de ter Paco com eles mais uma vez, e o tempo com eles foi uma escola. Sair da seleção pode ser visto como uma das melhores coisas que poderiam me ter acontecido. Em uma reunião que tive com o presidente na época ele me falou que uma porta se fechava e outras se abriam, para mim se abriu o mundo graças a Deus porque até convites de outros países recebi, mas felizmente minha escolha foi o Brasil.

O que espera da seleção nacional nos Jogos de Londres?

Olha, espero um resultado muito positivo, pois o Brasil tem hoje atletas que vêm trabalhando desde 8, 10 ou 12 anos, pois tem alguns esportistas que vão cumprir três ciclos olímpicos que é o que se faz em Cuba, se trabalha com ciclos de 12 anos e isto foi o que aconteceu aqui, porém com a diferença que começaram com 9-10 anos de idade e aqui começam um pouco mais velhos. Um trabalho que começou há vários anos está dando frutos e me pergunto se as pessoas estão prontas para dar seguimento ao trabalho.

Como é feito o trabalho de boxe no Clube Palmeiras?

Hoje no Palmeiras temos um planejamento com metas de médio prazo, pois nosso objetivo é ter atletas brigando por uma vaga nas Olimpíadas de 2016, para isso contamos com a dedicação de nosso diretor Reginaldo Trípoli e o apóio da direção do Palmeiras.

Você treina Lino Barros desde os tempos de amador. Quais evoluções pode apontar no atleta?

Ao meu modo de ver o atleta como um sistema integrado de preparações de treinamento esportivo, a maior evolução de lino tem sido taticamente já que seu arsenal técnico precisamente por ser praticante moldado pela escola cubana poderia dizer que para sua categoria é bom, agora como aplicar estas técnicas havia uma lacuna, e hoje posso dizer que de 0 à 10 ele obtém nota 9.

Como é o trabalho desenvolvido com Lino para encarar Julio Cesar "Gaspar" dos Santos?

Estamos trabalhando com Lino para lutar com Julio Cesar "Gaspar" como se fosse para a luta mais forte de sua carreira, pois ainda que existam algumas informações de Gaspar, cada luta é uma história diferente, um jogo de futebol se ganha com um esquema tático, o boxe é difícil de ser vencido com um esquema tático determinado por isto trabalharemos para que Lino seja capaz de mudar dentro da luta dentro das exigências do seu oponente que como se sabe é um excelente boxeador e está sendo preparado por excelentes treinadores. Será uma grande luta, a qual se faz necessária ser vista.

Após o Lino vão surgir outros profissionais no Palmeiras?

Penso que devemos aprender a andar primeiro para depois correr, é um trabalho que apenas começa no momento que pensamos em nossos jogos olímpicos e quem sabe depois tudo isso possa acontecer.