quinta-feira, 10 de maio de 2012

Entrevista com Loli Muñoz

Loli Muñoz / (Foto: divulgação)

A espanhola Loli Muñoz, 36, possuí diversos títulos no kickboxing, K-1, e muay thai, entretanto, no boxe ainda não alcançou a glória máxima, porém segue lutando e sendo tida como dura adversária no circuito dos pesos leves (61,2 kg).

No final de abril foi superada pela belga Delfine Persoon na pontuação. Em 2011, protagonizou dois embates com a uruguaia Chris Namús na categoria dos meio-médios (66,7 kg). No primeiro encontro irregularidades fizeram o resultado ser revertido para "Sem Decisão" e o segundo terminou com vitória para Namús, ambos no Uruguai.

Além do trabalho no ringue, possuí um diploma em Matemática e atua como funcionária na área de Justiça em seu país. Em entrevista concedida ao Córner do Leão fala de seus combates no boxe, a realidade do esporte na Espanha, confrontos longe da pátria-mãe e revela quem gostaria de enfrentar. Muñoz tem encontro marcado com a zambiana campeã mundial Esther Phiri para junho.

Como foi seu início no boxe?

Comecei há mais de 13 anos quando entrei numa academia para praticar artes marciais e o meu treinador ao ver que eu as praticava com afinco perguntou se eu gostaria de competir. Minha resposta foi um sonoro "sim" e depois de subir no ringue pela primeira vez eu soube que não seria a última.

Como foi se adaptar do kickboxing para o boxe?

A verdade é que foi bastante simples, porque a base do kickboxing é o boxe e mesmo havendo grandes diferenças em alguns detalhes como distância e ritmo, para mim sempre foi mais atraente o boxe, então não foi tão difícil. Sigo treinando ambos esportes, mesmo que agora eu receba mais procura para lutar a nobre arte.

Como explica a irregularidade de seu cartel de boxe?

É fácil explicar para uma pessoa que conhece este mundo (boxe), porque todas derrotas foram fora de casa e alguém que conhece este mundinho sabe que é raro vencer por pontos quando não está em seu país, ainda que tenha sido amplamente superior. Este é o mal do boxe, cada vez está mais corrompido, uma pena.

Além de lutar trabalha como funcionária da Justiça da Espanha. Não pode apenas viver de boxe ou prefere manter as duas coisas?

Não, não posso viver apenas de boxe, as bolsas não são elevadas e na Espanha não há publicidade para o boxe que me permita viver dele. Eu creio que mesmo que pudesse viver apenas dele não o faria, pois já tenho outra carreira em seguimento para quando pendurar as luvas.

Você apareceu num programa televisivo da TV Espanhola cozinhando em um restaurante. O que pode falar desta experiência?

O programa não foi na TV de meu país, como já lhe disse aqui o boxe e boxeadores não tem muito espaço na TV. Foi no Uruguai, um país que me recebeu como nenhum outro, que me surpreendeu por sua honradez e que sempre terei em meu coração. A experiência foi divertida, claro que não nada grande na cozinha, mas foi um dia formidável.

O que pode dizer das duas lutas com Namús?

O que posso dizer que já não tenha sido dito! Creio que o mais incrível disso tudo é que ele crê que ganhou o segundo combate e isto é muito triste, que um boxeador não saiba quando perdeu, realmente triste. Foi duro atrapalharem no meu tempo para que não a nocauteasse no primeiro assalto como fazia o (árbitro Aníbal) Andrade que a segurava para não ir a lona, achava que já via visto de tudo, mas realmente não. Pior foi no segundo combate que o outro árbitro a levantava do solo porque ela não era capaz de se erguer no sexto assalto depois de uma direita, e seguiu sem soltar um golpe até o 10º round, no décimo assalto solta as mãos e parece que isto é suficiente para ganhar o embate por pontos, incrível! A federação que sancionava o combate anulou o primeiro, mas não quis anular o segundo (creio que exista muitos interesses para não o cancelar), a única coisa que fizeram foi mudar as pontuações e deixar mais próximas e sugerir um terceiro confronto, que Namús não demorou a negar. Mas prefiro ficar com a memória de todos os uruguaios que se portaram com muito respeito em relação a mim e souberam ver que fui eu a vencedora e graças a eles aceitei voltar.

Em entrevista a este site Namús falou que a primeira luta contigo não foi justa então lhe deu outra oportunidade. Namús crê que Fernanda Alegre a superou de maneira injusta. O que pensa das lutas entre Namús e Alegre?

Primeiro devo dizer que Namús só afirmou que perdeu para mim quando lhe deram a vitória no segundo combate, antes não havia dito nunca que apenas perdeu e a cito textualmente: "os últimos assalto não me senti vencedora", ela mediu bem as palavras, e não me deu uma revanche, sendo que o combate foi anulado e suponho que se sentiu pressionada pela opinião pública, assim ficou valente e aceitou um novo desafio comigo.

Vi os combates com Alegre, é evidente que Namús melhorou, é normal, eu sempre disse que Namús é boa, mas não era a campeão mundial que nos vendia, só a faltava experiência e isto é o que está fazendo agora. O primeiro perdeu, enquanto o segundo creio que venceu, mas por poucos pontos, nada mais, mas como já disse anteriormente, o mau do boxe é que tem de lutar fora de casa e não ser a local é muito fácil o resultado ser parcial, mas Namús não deveria se queixar tanto, comigo já fizeram isto sete vezes e muitíssimas mais escancaradas que com ela, ou não se lembra de meu embate com ela? Assim, aprendo que não se pode viver sempre numa nuvem e que deve ter pé no chão nesse mundo.

Por certo, algo que não disse não pergunta anterior é que lutaria com Namús numa categoria de peso inferior, assim teria mais mérito.

Por quê não venceu sua última luta (embate com Delfine Persoon)?

Pois minha luta com Delfine Persoon foi uma derrota, sim, perdi para uma grande boxeadora (uma das melhores desses tempos), mas também devo dizer que não tive um grande dia, que fiz um mau combate, o ringue estava escorregadio demais, ou seja, nada estava bem, e as luvas eram de 10 onças, enquanto deveriam ser de 8 onças, o cabelo soltou e me atrapalhava e quando sai do ringue tive um forte ataque de alergia, mas tudo bem, são detalhes que não me deixaram estar em bom estado, mas não desculpam por ter feito um dos piores combates de minha carreira, só espero poder me colocar a frente dela mais uma vez.

Neste momento com quem gostaria de lutar?

Há muitas rivais com quem gostaria de lutar: (Fernanda) Alegre, (Duda) Yankovich, Enis Pacheco, Erica Farias, Esther Phiri, um novo embate com Persoon, Melissa Hernandez ou qualquer outra pugilista de primeiro escalão.