segunda-feira, 7 de maio de 2012

Entrevista com Desembargador Antonio Carlos Debatin Cardoso

Desembargador Antonio Carlos Debatin Cardoso / (Foto: Divulgação)

Antonio Carlos Debatin Cardoso serviu a magistratura paulista durante 42 anos, sendo 26 deles na Segunda Instância: 6 anos no Segundo Tribunal de Alçada Civil e 20 anos como Desembargador do Tribunal de Justiça, sendo seus 12 últimos anos na área Criminal. Fez também parte do Órgão Especial do TJ paulista.

Em entrevista ao Córner do Leão concedida em sua residência na capital paulista, o Desembargador Antonio Carlos Debatin Cardoso fala de seus ídolos no boxe, as semelhanças entre a nobre arte e o Direito e questões judiciais dentro do esporte de cavalheiros.

Como foi seu início no pugilismo?

Em 31/03/57 eu e meu amigo Carlos Wogue fomos ao ginásio do Ibirapuera assistir uma reunião de boxe na qual estreava no profissionalismo um jovem promissor peso galo chamado Éder Jofre que venceu a um argentino no terceiro assalto.

Também estreou o leve Sebastião Nascimento cuja luta com Xavier Mandi foi aplaudida por 5 minutos, logo que terminou.

Sebastião Ladislau, o Gibi, nocauteou um argentino no primeiro assalto e, na luta de fundo, o Luiz Inácio, o popular Luizão, enfrentou o campeão holandês, 8º no ranking mundial, Win Snoek. Luizão ganhou os 9 primeiros assaltos e foi nocauteado no 10º.

E após?

Entrei no curso de juízes e jurados da Federação Paulista onde conheci uma notável figura humana: Lúcio Ignácio da Cruz. De notável caráter, de grande vivência dentro e fora dos ringues e, honestíssimo, não admitia favorecimento ou patriotadas nas decisões. Era um exemplo em todos os sentidos. Fui jurado da Federação até 1964.

Teve ou tem algum ídolo neste esporte?

Sim, Éder Jofre: um pugilista completo e atemporal como Sugar Ray Robinson, Muhammad Ali, Carlos Monzon, Julio Cesar Chaves, Roy Jones Jr., no seu auge, e hoje, Sergio “Maravilla” Martinez.

No amadorismo, fico com Abraão de Souza, vencedor de Bob Foster no Pan Americano de Chicago em 1959, e Servílio de Oliveira, que só não foi para a final olímpica, no México, pois cruzou com um mexicano na semi-final e que também poderia ter sido campeão mundial caso não houvesse descolado sua retina).

Existe alguma relação entre a área do direito e a do boxe?

Sim, duas relações: o bom senso e a inteligência.

O bom senso é necessário em qualquer atividade da vida e, na inteligência, Muhamad Ali derrotou pugilistas mais fortes que ele: Sonny Liston, Joe Frazier e (George) Foreman.

No Brasil há muitas suspeitas de atos ilícitos no meio esportivo. Como deve ser a atuação do Judiciário e do Ministério Público?

Normalmente o Judiciário não pode proceder de ofício. Por seu turno, o Ministério Público, depois da Constituição de 1988, tomando conhecimento de um ato ilícito pode determinar a abertura de inquérito ou apurar, por ele mesmo, a ilicitude do ato.

Falta de condições nos eventos como ambulâncias e exames prévios podem ser apurados pela Justiça mesmo que sejam de entidades particulares?

Sim, desde haja indícios fortes de que expuseram o ser humano a perigo de vida ou a sequelas graves, pelo não cumprimento da lei.

Como deve prosseguir um boxeador que se sente lesado?


O pugilista, antes do combate, deve firmar com empresários e promotores um contrato estipulando, claramente, o montante de sua bolsa. Em caso de inadimplência, ou seja, de não pagamento ao pugilista, deve ele procurar um advogado e acionar os que não cumpriram o estipulado.

"Cartéis e lutas falsas configuram crimes, porque iludem o público e os empresários, principalmente, os estrangeiros. Trata-se de estelionato!"

Cartéis e lutas falsas são crimes?

Cartéis e lutas falsas configuram crimes, porque iludem o público e os empresários, principalmente, os estrangeiros. Trata-se de estelionato!

Ao seu ver por que os pugilistas não buscam seus direitos?
Em geral são pessoas muito humildes, simples, e além de desconhecerem seus direitos nas referidas ocasiões têm necessidades de dinheiro em razão da sobrevivência e receiam não mais serem programados pelos empresários.

Nomes respeitados do boxe nacional são alunos de direito como Servilho de Oliveira, Santo Arias e Alex de Oliveira. O que o senhor acha disso ?

Considero excelente pois além de poderem defender melhor seus interesses, podem ajudar seus pupilos e colegas de profissão.

Muito obrigado Desembargador Debatin Cardoso.

Saiba que acompanho seu blog há tempo e o admiro pela honestidade, sendo que vejo em você uma esperança para a melhoria do nosso boxe. Conte sempre comigo.