"O que eu gostaria é uma nova chance contra Guillermo"
A carreira de Giovanni Andrade nos ringues é como sua vida, uma montanha russa de altos e baixos. No dia 18 de setembro enfrentou o bi-campeão olímpico Guillermo Rigondeaux hoje no boxe profissional após fugir de Cuba – sua 1ª tentativa foi nos Jogos Pan-Americanos 2007 no Rio de Janeiro.
Em entrevista ao Córner do Leão, Andrade, dono de um cartel de 60 vitórias, sendo 49 pela via rápida, 12 derrotas das quais 8 foram por nocaute e nenhum empate totalizando 72 combates conforme o Boxrec, fala sobre sua trajetória e abre detalhes do combate contra o cubano.
Você teve uma passagem de mais baixos do que altos antes do pugilismo. Conte o que aconteceu em sua vida antes de conhecer a nobre arte.
Fugi do norte ainda muito jovem com a esperança de vir a São Paulo. Pensava em comprar algo para minha mãe e retornar para a Bahia, mas a verdade foi outra. Aqui eu tinha uma senhora que conhecia minha família e fui para sua casa no Bom Retiro, mas ela retornou para a Bahia e eu fiquei sem moradia. Sem ninguém aqui em São Paulo sofri muito cara, fui atropelado, fiquei no hospital jogado, fui espancado, apanhei da policia, escapei da morte por diversas vezes, até encontrar o senhor Baltazar que era treinador do Centro esportivo do Tatuapé, ele me ensinou tudo da vida. Como não tinha moradia, dormia no chão da academia, ele me dava comida, dinheiro, roupa e carinho de um pai. Ao seu lado ganhei o primeiro titulo amador no torneio estimulo Kid Jofre de 1989, ajudando o Tatuapé a conquistar o torneio da competição por equipe
Você se envolveu com as drogas?
Sou uma pessoa iluminada cara, os meus amigos me ofereciam, mas nunca tive interesse em drogas, os meus amigos que usavam em sua maioria estão mortos hoje.
Como entrou para o pugilismo?
Busquei praticar a nobre arte mais com a preocupação de me defender, vivia sozinho, sem família nessa selva de pedras e depois aprendi que o boxe era uma esporte de carreira no qual poderia encontrar uma saída e dar um rumo para minha vida.
Você tem ídolos no esporte?
Não tenho, somente admiro alguns deles. Ronaldo Nazário “O Fenômeno” é um grande guerreiro, não desiste nunca, passou por humilhações, sofreu lesões, e está aí para demonstrar força e determinação, e poderá brilhar em uma copa do mundo.
Fale sobre o seu projeto para ensinar o esporte para crianças de baixa renda?
Estou envolvido em 2 projetos de boxe. Atuo com a equipe da secretaria municipal de esportes, que o secretário Dr.Walter Feldman, após um pedido formatou um projeto para tentar salvar o nosso pugilismo, uma modalidade olímpica com chances de conquistar um grande números de medalhas na competição tanto que Cuba tem expressiva contagem de medalhas somente no Boxe. O pugilismo da secretaria conta com 8 unidades e acredito que em mais ou menos 1 ano teremos boxeadores campeões.
A 2ª iniciativa com a Força Jovem Brasil apresenta mais de 70 mil jovens. Nesse projeto acredito que já passamos das 100 modalidades e será um dos maiores do pais, porque estamos em todos os estados, eu sou o líder do estado paulista. Participamos agora da virada esportiva 2009, no Parque Ecológico do Tietê , temos o apoio do Governo Federal, governadores, e em São Paulo, temos parceria com a secretaria municipal de esportes.
O comportamento dessas crianças foi influenciado pelo esporte?
O esporte já demonstrou que é uma ferramenta de cunho social, o esporte socializa o indivíduo, aumenta a auto-estima. Você vê a alegria de um garotos de favelas ganhando uma medalha , os olhos deles brilham, temos vários atletas que tiveram suas vidas transformadas através do esporte e eu sou um deles, hoje tenho minha casa própria, tenho meu automóvel, sou universitário , conheço quase o mundo inteiro viajando para lutar e levar lutadores , que é o meu 2° ofício, levo brasileiros e argentinos para boxear mundo afora. Vários brasileiros moram hoje no exterior com minha ajuda, dentre eles esta Antonio Mesquita que mora em Las Vegas, o Árabe Brasileiro Mohamed Said.
Qual foi sua luta mais difícil até agora?
Contra Javier Alacran Torres, ele estava em todos os rankings mundiais, essa luta foi no Norte da Argentina na Cidade de San Salvador de Jujuy e nessa época eu já morava na Argentina. Venci esse combate por pontos, porém me restaram algumas costelas machucadas, e o sofrimento para vencer esse cavalo Argentino que tinha fregueses brasileiros compensou, pois ele havia vencido a Jose Hamilton Rodrigues quando estava no auge de sua carreira.
Em 1996 você enfrentou Johnny Tapia pelo cinturão WBO. Como foi esse combate?
Na verdade fui nessa luta verde de tudo, estava bem preparado, mas quando entrei no estádio do Los Angeles Lakers, minha pernas tremeram, a cobrança era muito grande para que eu vencesse. Durante o 2° round , recebi um golpe nos testículos que me fez ver estrelas, eu tinha direito a 5 minutos, porém quis voltar antes recebi outro golpe, um pouco mais acima, e fui para a lona, igual fez o americano quando venceu a Valdemir Perreira, o “Sertão”.
Perdi e voltei a disputar outro titulo mundial na Itália (World Boxing Union), contra Luigi Castiglone, perdi por pontos em 12 rounds e mais uma vez a coroa não veio.
Sua carreira iniciou em 1993 se estendendo por 16 anos e com mais de 70 combates, entretanto, o que causou a alternância de bons e maus momentos nela?
Falta de apoio! Ter quer treinar sozinho e trabalhar ao mesmo tempo dificultam, e na verdade patrocínio no Brasil era loteria, por isso esses resultados vinham, quando lutamos aqui no Brasil e era muito difícil enfrentarmos atletas de primeira linha. O “por quê” não lutar, a falta de pagar, porque os melhores não vinham por motivo de dinheiro, então trazíamos aqueles que queriam se arriscar por um dinheiro menor, muitas vezes até repetimos os mesmos adversários, no meu cartel, você pode ver, lutei com alguns em mais de uma oportunidade o que é normal em todo mundo.
Como foram seus preparativos para o combate contra Guillermo Rigondeaux?
1 semana foi o treino para esse combate, treine na Academia do Hotel em Miami, apenas preparei o físico e tentei tirar o meu peso, tinha 5 libras acima do peso, mas na verdade a luta estava anunciada em pena, por isso eu não fiquei preocupado com o peso, entretanto, no dia da pesagem anunciaram que era outro peso e tinha dar as 122 lbs, eu estava em 126, tive que perder 2 libras rápido , e cheguei a 124 lbs.
Em 2007 Rigondeaux foi deportado do país de volta para Cuba após tentar fugir durante os Jogos Pan-Americanos. Você acredita que isso teve alguma influência nessa luta?
Não! Guillermo voltou escapar de Cuba foi para Alemanha, mas a empresa ARENA de Hamburgo não quis ele por se velho para iniciar na carreira profissional. Nos E.U.A temos o bondoso promotor Luis de Cuba apostando em Guillermo Ringondeaux que fez muito pelo boxe de Cuba.
Conversei com Guillermo varias vezes, e ficou claro que não tinha nada a ver com sua deportação, eles aceitaram a luta pelo seguinte: A ESPN, tinha um espaço para Luis de Cuba, e ele teria que apresentar uma programação boa para que a TV comprasse, o empresário montou um evento com vários atletas medalhistas olímpicos para a programação ser atrativa e deu tudo certo para Luis.
Você se sentiu hostilizado pela platéia durante o combate?
Você não imagina, mas o povo cubano que mora em Miami gosta muito dos brasileiros e depois do combate muitos vieram tirar foto comigo, até já estou acostumado, inclusive muitos deles assistiram minha luta com Celestino Caballero, próximo ao local quando lutei 10 round e fiz a platéia ficar ao meu favor.
Em sua apresentação você se mostrou irreverente e provocou muito o outro atleta, o árbitro e a platéia. Qual foi o motivo das provocações?
Um americano veio falar comigo que as bolsas de aposta estavam dando Rigondeaux por nocaute no 1° round e que eu não agüentaria nada. Todos falavam que ele é bi campeão-olímpico, bi-campeão mundial e na verdade o provoquei talvez para mostrar que realmente ele não é tudo que esta sendo vendido, ele já estava perdendo as forças, tanto que perdeu a maioria dos golpes e escapei de quase todos os golpes, não nego, ele acertou aquela pancada no meu fígado, senti e não quis me arriscar. Todos estavam com medo, porque ele treinou na Califórnia, e apanhou muito do seu sparring mexicano, não tem cintura e não trabalha na curta (distância).
Tanto a imprensa estadunidense como a brasileira não acreditavam em sua vitória. Como se sentiu ao saber disso?
Isso é normal, estou acostumado com isso, o importante é minha felicidade, minha família abençoada. A imprensa é necessária para nós, quando eu ganhar vão colocar em suas páginas que vence. Ninguém escapa disso, a imprensa é justa no que escreve e comenta, e em muitos casos as verdades são 100%
Acredita que essa foi a maior chance que teve recentemente em sua carreira?
Não , porque a luta para mim não valia titulo, se eu vencesse , ganharia de um cara com 3 lutas e o que ele conquistou no amador, não soma nada no profissionalismo, e outra historia, lógico que os títulos dele assustam muitos lutadores, mas não funciona muito quando soa o gongo.
Quais são seus planos para o futuro?
Vou fazer algumas lutas aqui no Brasil, vou procurar treinar bem para os próximos combates, estava vindo um treinador de Las Vegas, Fernando Soto, que treina campeões lá e em Porto Rico. Este profissional vem me treinar e buscar atletas novos com possibilidade de fazer carreira nos Estados Unidos. O que eu gostaria é uma nova chance contra Guillermo, mas eu teria que ir para Las Vegas 1 mês antes.
Para você quem será o próximo brasileiro a se destacar no cenário mundial e no país?
Acho que o que tem uma boa chance é o Alex de Oliveira peso super galo, tem muita força física, e é briguento, acredito ser um excelente atleta.
Guillermo Rigondeaux esta cotado para disputar o cinturão. Você vê nele esse talento que afirmam que ele tem?
Não acredito que suportará um Celestino ou Juan Manoel Lopez que é muita dureza, ele não tem chance diante dessas feras.
Em sua opinião quem poderia derrotá-lo? Como?
Juan Manoel Lopez venceria por nocaute.
Combate Giovanni Andrade (branco) x Guillermo Rigondeaux (preto)