segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Oi, eu sou o Futuro Campeão Mundial
“São Paulo é minha ultima tentativa, se não der certo pelo menos eu vou morrer sabendo que eu tentei e não consegui, mas não desisti”. Leandro Siqueroli assim como muitos imigrantes brasileiros e estrangeiros resolveu buscar o sonho paulista. O colosso cinzento que mistura prédios de arquitetura pós-moderna e excluídos sociais que se parecem com refugiados de guerras mostrou a ele uma sociedade de contrastes.
Quando chegou à cidade que é o centro econômico da América Latina se surpreendeu com a magnitude do sistema metroviário e durante dias observou o movimento dos vagões nas estações assim como Macabéia de Clarice Linspector. O ritmo acelerado dos paulistas espantou o jovem boxeador de Londrina e outras diferenças de seus acalorados conterrâneos foi a frieza e a melancolia presente nos rostos transitando como se fossem um enxame de formigas com pressa em busca de mais trabalho.
A vinda à cidade grande aos 18 anos foi uma aventura que faria muitos desistirem. Apesar de ter iniciado aos 14 anos no esporte e ter sido tri-campeão amador paranaense e campeão do centro oeste no novo estado o nome Leandro Siqueroli não quer dizer muito, na verdade quase nada já que não é um atleta badalado pela mídia. Na nova cidade passou fome e ficou desabrigado até encontrar uma família nova. No Paraná deixou sua mãe e uma de suas duas irmãs. Durante o período como amador a maior alegria que teve foi conhecer Popó quando lutou na Bahia.
Apesar do talento para o boxe as dificuldades encontradas em sua saga o fizeram contemplar o desejo de suicídio. “Algumas vezes eu vejo o boxe como uma maldição, e como em todas as maldições você nunca se livra dela é ela que sempre se livra de você. Não importa o que você faça, não importa pra onde você vá, se você é um lutador você sempre estará lutando”, e com esta filosofia que o acode e ao mesmo tempo o persegue conseguiu manter a cabeça e buscar condições mais dignas.
Uma de suas motivações para deixar o conforto do lar, foi a morte de seu pai que o fez rumar em busca do ouro das grandes arenas pelo mundo ao invés de chorar com o resto da família. As humilhações também o encorajam em ir em frente. Certa vez pagou do próprio bolso para lutar e deixou de acertar o aluguel, tinha de sair da residência pela telhado para o proprietário não vê-lo.
O amparo veio na forma de novos amigos. O peso-pesado Raphael Zumbano – que o conheceu ao confundi-lo com outro amigo no bate papo virtual do MSN Messenger –, membro de um dos principais clãs do esporte o aceitou e hoje é seu empresário, Ismael Bueno “abriu as portas da casa dele para que um desconhecido morasse lá”, outro dos amigos que cita é o meio-pesado Alex Cardoso do Espírito Santo que lhe serve de conselheiro com sua sabedoria.
Miguel de Oliveira, ex-campeão mundial e atualmente treinador de uma das mais caras academias do país o aceitou como seu pupilo. Outro Miguel de Oliveira marcou sua vida, foi seu primeiro treinador e pioneiro da nobre arte em Londrina, faleceu no dia 30 de setembro, o olhar de Siqueroli entristece quando lembra de seu “pai de luvas”. Mas sua boca também abre um sorriso quando lembra de momentos felizes ao lado do amigo, “ele é uma pessoa que vai deixar saudades tanto para mim quanto para o boxe nacional”.
Para conhecer o Oliveira paulista lembra que não foi fácil, a recepcionista da academia olhou com desdém para seu jeito caipira e o avisou que o professor não estava presente, Siqueroli preferiu esperar do outro lado da rua. Quando viu o senhor careca de pele bronzeada que aparenta ser mais novo que seus 60 e poucos anos em seu R.G atestam se aproximou e disse: “ sou lutador de boxe lá do Paraná e vim para São Paulo me tornar campeão mundial e como o senhor já foi campeão eu gostaria que me desse alguma dica do que tenho de fazer para chegar lá”.
No momento Oliveira ficou sem reação e pediu para o jovem de Londrina voltar mais tarde para um treino com os profissionais da academia e pelas mãos do técnico se tornou profissional, hoje tem 3 vitórias todas pela via rápida e uma derrota por decisão majoritária. Além do mestre e de Zumbano destaca a participação de Ratinho, Alex e Miro.
Quando está fora dos ringues ganha sua vida servindo mesas em um pub irlandês na Vila Olímpia, bairro freqüentado por jovens de classes A e B. A mesma empresa patrocina o seu amigo e irmão postiço Raphael Zumbano e mesmo trabalhando e treinando encontra fôlego para freqüentar o curso superior de gastronomia, o sono, o cansaço e a fome em alguns momentos prejudicam seu treino.
Assim como tantos outros pugilistas acredita na mitologia criada pelo astro hollywoodiano Sylvester Stallone através de Rocky Balboa e cita um herói da fábula: “algumas vezes sinto que minha vida é o boxe, e como o Apollo Creed disse no Rocky 4, um lutador é como um soldado, sem uma luta para lutar ou uma guerra para guerrear ele estará melhor morto. Ele resumiu a minha realidade e a realidade de muitos outros lutadores do mundo quando disse isso”.
Para o pugilista de 21 anos subir no ringue é fácil, mas o complicado é se manter lutando. Esse pensamento acompanha e o alimenta assim como seu sonho com o título mundial que beira a obsessão. Há 7 anos sonha com o cinturão e quando conhece alguém se apresenta como “futuro campeão mundial”. Na noite de hoje Leandro Siqueroli parte para mais um dos rincões paulistas em busca de mais uma luta, mais uma vitória e mais um passo em sua estrada para o reconhecimento mundial, enquanto isso, vive sem o glamour dos cassinos de Las Vegas ou a elegância do Madison Square Garden como a esmagadora maioria de lutadores. Só o tempo e sua habilidade podem dizer se ele será o “futuro campeão mundial”. Pelo menos já tem quem acredite nele e se um patrocinador investisse esse sonho seria mais viável.