quarta-feira, 7 de julho de 2010

O sorriso invicto de Michel

Michel da Silva / Foto: Reinaldo Carrera


Seu Edu Melo ruboriza ao gritar passando algum comando para seu lutador. Conhecer sua academia de pugilistas remete ao passado de gladiadores no qual eles tinham um mestre comandando cada grupo, alguém que em alguns casos partipou em sua juventude desses jogos, assim como Melo.

Os cabelos brancos balançam sobre a cabeça que cada vez fica mais vermelha, é o protegido mais novo do empresário de boxe que troca golpes no ringue e isso o deixa nervoso. O pugilista de sua tropa tem 21 anos, mas por conta da estatura e jovialidade aparenta menos.

Michel da Silva, ou “Babu” – o nome inscrito na cintura de seu traje –, ou “Stuart Little” - o nome de um ratinho de uma animação – acerta socos de variados jeitos buscando apenas um alvo, o rosto de seu adversário, o corinthiano Darli Gonçalves Pires.

O calção de Pires tinha o símbolo do clube paulista com maior número de torcedores que são conhecidos pela fé inabalável por um time que não é o mais vitorioso do país. Assim foi o boxeador que representou a esquadra no tradicional Baby Barioni, após duras pancadas e as costas brancas com marcas vermelhas volta buscando mais e querendo também torturar o colega.

No intervalo Michel teve uma conferência com seu treinador Xuxa, e no meio da conversa surge Melo ansioso pela vitória, quando o gongo soava o senhor que foi pupilo do lendário Waldemar Zumbano, combatente da Revolução de 1932, se senta ao lado do massudo e taciturno Pedro Otas, o qual tem como filho.

“Michel” em alguns momentos é traquina “Stuart Little”, quando está no clinch com Pires, parece abrir um sorriso, talvez fosse apenas o mordedor incomodando, ou a alegria de um menino que marca um gol numa pelada na rua.

A lona recebe o corpo de Pires no quarto assalto, apesar da dificuldade imposta, Da Silva se mostra superior, no 5° assalto os braços do juiz apontam o nocaute técnico, desta vez não teve gongo que salvasse. O irmão mais novo de William “Baby Face” Silva comemora.

Quando chego para conversar com o vitorioso, ele aceita meus cumprimentos e pede desculpas “por qualquer coisa”, eu devolvo: “desculpar! Eu não lutei com você”. O rosto juvenil apresenta as marcas de quem saiu de um acidente de trânsito, o boxe é assim mesmo, traz uma sensação de realização e dor.

Um advogado de terno e gravata que leva seu pai idoso todas semanas ao Baby Barioni comenta que Michel parece mais um brigador mexicano, daqueles que partem para cima até derrubar o adversário. Lutadores assim prezam mais o espetáculo e o entretenimento do público do que a técnica ou estratégias militares como fazem os europeus do leste.

Depois do embate voltam os amadores ao ringue, parecem centuriões com seus capacetes. O supermosca Michel é recebido pela sua família do pugilismo que exalta sua invencibilidade em sete combates, Pires, parece sumir dentro do vestiário, tem um rosto comum de operário daqueles que após a jornada de boxe encara uma de trabalho no dia seguinte e o retorno ao anonimato como foi por duros anos para o também corinthiano Elias.