sábado, 12 de março de 2011

Artigo: "Boxe é boxe"

O Córner do Leão cede este espaço para a publicação do Artigo "Boxe é Boxe" do professor de pugilismo Paulo Mendes de Maceió, Alagoas.

Boxe é Boxe

Muay thai é muay thai, Kick Boxing é Kick Boxing...

Venho mais uma vez, levantar alguns questionamentos assim como também fazer um alerta aos alunos de boa parte das academias do nosso imenso país, incluindo, por incrível que pareça, àqueles matriculados nas grandes academias do eixo São Paulo – Rio de Janeiro, de que o Boxe está se perdendo em sua história e em sua essência.

Infelizmente tenho me deparado com professores de várias destas academias com o título de “Professor de Boxe”, fato que, verdadeiramente, em muitas oportunidades, não o são. Muitos são oriundos de outros esportes de luta, outros ainda se encontram migrando de um desses outros esportes de luta para o Boxe.

Na verdade migram das chamadas “artes marciais”, que têm sua origem no mundo oriental, enquanto o Boxe tem sua origem no mundo ocidental, sendo uma “luta” criada, desenvolvida e praticada pelos gregos (1500 anos A.C.), com o nome de “Pancrase” e mais tarde “Pugilato”. Mas como sabemos, também foi acoplada e praticada pelos gladiadores romanos, durante as lutas, nos jogos Olímpicos da Antiguidade, e que em festivais especiais terminava, com a morte de um dos contendores.

Não, que os professores vindos de outras lutas, não tenham competência para ensinar, mas que, por virem de atividades tão distintas e com essências tão diferenciadas, não conseguem absorver todas as nuances, que caracterizam a nobre arte, o boxe.

Acreditamos que todo o processo ensino-aprendizagem ficará comprometido, já que, apesar de todo o esforço desenvolvido por estes professores, provavelmente não conseguirão transmitir todas as ações inerentes ao boxe sendo sua história, sua plástica que inclui postura, deslocamentos, defesas, ataques, além de outros fatores.

Queremos afirmar, que a prática do boxe também se faz necessária e crucial para todo o processo ensino-aprendizagem, mesmo nas academias, e que, de nada adianta termos professores teóricos, sem que eles, ao menos, tenham vivenciado e praticado o boxe. Na verdade, em nosso entendimento, eles até nem precisariam ter participado de competições. Como o inverso também é verdadeiro, de nada adiantaria termos apenas indivíduos práticos, ex-atletas, sem que eles, ao menos, tenham buscado cursos técnicos de capacitação com conhecimento e aperfeiçoamento nas áreas pedagógica e das ciências dos esportes.

Como as academias do Brasil e mundo afora, podem descaracterizar uma luta, hoje um esporte, tão longínquo e que é parte antropológica e integrante da história evolutiva de todos nós seres humanos?

Por que nossas universidades e faculdades, não interferem neste contexto, integrando o BOXE em sua grade curricular - se é que não já existe- , bem como adotem seus ensinamentos histórico-culturais-antropológicos em seu conteúdo programático, pois que o mesmo, é um remanescente da “história antiga” mundial?

Não esqueçamos, porém, de que todos os conhecimentos técnico-científicos deste esporte, devem ser passados da maneira correta, sem mesclas e desvios pedagógicos.

Quanto aos nossos Conselhos de Educação Física: Federal e Estaduais acredito, que deveriam estabelecer e até mesmo obrigar que as academias contratem o verdadeiro professor da modalidade, fazendo com que este papel seja exercido por quem é de direito

Como podemos deixar que professores de outras lutas, mesmo que inconscientemente, desfigurem e deturpem o Boxe?

Observem que as diferenças entre lutas são gritantes; por exemplo: comparemos o Boxe com o Muay Thai:

1) Postura: BOXE: Perfil – MUAY THAI: Frontal;

2) Guarda: BOXE Cotovelos bem próximos ao Corpo e ao Rosto – MUAY THAI: Cotovelos afastados do Corpo e do Rosto;

3) Deslocamentos: BOXE: Rente ao solo, cerca de 45º entre os pés, numa distância entre ambos de 30 – 40 cm: o pé da frente com a planta totalmente no solo, o pé de trás com predominância na ponta(flexão plantar) – Muay Thai: Saltitos para cima, para frente e para trás, os dois pés quase que paralelos, com predominância nas suas pontas(flexão plantar);

4) Ataque: BOXE: os socos saem e retornam colados ao rosto e corpo – Muay Thai: os socos saem e retornam afastados do rosto e corpo. Salientamos ainda, que os socos de ambos, possuem mecânicas totalmente diferenciadas;

5) Defesa: BOXE: Bloqueios(simples e duplos), Esquivas[lateral(tronco e pernas)/recuo(tronco e pernas)/pêndulos)], o objetivo do BOXE é sair dos golpes e aproveitar as duas mãos livres para os contra-golpes(BOXE é a arte da aplicação de golpes, sem que possamos ser atingidos – popularmente seria: "A Arte de Bater e Não Apanhar") – Muay Thai: basicamente bloqueios duplos.

OBS:

a) É importante frisar, que o BOXE não permite o uso de chutes, joelhadas e cotoveladas, golpes que formam a essência do Muay Thai e que, por conseqüência da utilização destes golpes, é que existem diferenças bastante significativas entre ambos os esportes.

b) Senhores “professores”, tenham consciência e deixem as aulas de BOXE, para aqueles que realmente vivem, viveram e se especializaram nos fundamentos da NOBRE ARTE*.



*NOBRE ARTE: Título ofertado ao BOXE, pois que, na Inglaterra, quando sofreu *mudanças em suas regras(“Boxe Moderno”), era praticado pelos NOBRES - aqueles pertencentes às classes sociais mais abastadas -.



*mudanças: Ao longo dos tempos, o Boxe Inglês foi praticado sob três tipos de regras: 1) Regras de Broughton(introduzidas em 1743); 2) Regras de Londres(introduzidas em 1838 e modificadas em 1853 e 1866); 3) Regras do Marquês de Queensberry(introduzidas em 1867, são as do Boxe Atual, mas já sofreram várias alterações).