terça-feira, 22 de novembro de 2011

Herói ou Marajá?


Michael Oliveira / (Foto: Divulgação)


“Heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referência, fulcros de identificação coletiva. São, por isso, instrumentos eficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos a serviço da legitimação de regimes políticos. Não há regime que não promova o culto de seus heróis e não possua seu panteão cívico. Em alguns, os heróis surgiram quase espontaneamente das lutas que precederam a nova ordem das coisas. Em outros, de menor profundidade popular, foi necessário maior esforço na escolha e na promoção da figura do herói. É exatamente nesses últimos casos que o herói é mais importante. A falta de envolvimento real do povo na implantação do regime leva à tentativa de compensação, por meio da mobilização simbólica. Mas, como a criação de símbolos não é arbitrária, não se faz no vazio do panteão cívico. Herói que se preze tem de ter, de algum modo, a cara da nação. Tem de responder a alguma necessidade ou aspiração coletiva, refletir algum tipo de personalidade ou de comportamento que corresponda a um modelo coletivamente valorizado”, explica o cientista político e historiador brasileiro José Murilo de Carvalho em seu livro Formação das Almas (1990) retratando a figura dos heróis nacionais com o advento da República.
 
O esporte brasileiro tem entre seus heróis nomes como o boxeador Éder Jofre, o saltador Adhemar Ferreira da Silva, o piloto Ayrton Senna, a tenista Maria Esther Bueno e o futebolista Pelé. Independente de erros cometidos – afinal são vistos como heróis e não santos – todos eles atenderam aos pontos encontrados pelo intelectual acima assim como os políticos, porém com maior sinceridade.

Michael Oliveira afirma em matérias que quer ser visto como herói do povo brasileiro. Surge praticando boas ações e carregando crianças no colo e há aqueles que atestam sua sinceridade nessas ações, porém em outros momentos suas inserções televisivas apresentam um exibicionismo materialista com seus bens confundindo jornalismo com marketing e assessoria de imprensa.

Se tratando de marketing em si, o país possui dois cases de alto sucesso nos esportes que se tornaram heróis públicos. O problema é quando suas vidas pessoais vem a tona e o público percebe se são ou não heróis de fato.

"O herói age para redimir a sociedade"

Nos esportes, como dito acima, os exemplos acima encontram os ideais explicados por José Murilo de Carvalho. Oriundos de classes pobres ou de meios abastados, os membros do panteão brasileiro deram dignidade ao povo e ajudaram a diminuir o que o escritor Nelson Rodrigues chama de “complexo de vira-lata”, um pensamento que atormenta a nação.

Michael Oliveira evoluiu moderadamente dentro do seu boxe, seu pai e empresário sabe produzir eventos. Mas não investem em outras carreiras além do “Brazilian Rocky”, como gosta de ser chamado. Suas ações em projetos sociais são relevantes para desenvolvimento da cidadania e poderiam ser estendidas ao meio do boxe também - principalmente o brasileiro -, este lado afeta mais o público do que sua vida em Miami. Por outro lado é destacável que o jovem é muito invejado ao mesmo tempo que pode ser cercado por interesseiros que em momentos bons o elogiam e nos difíceis são ferozes críticos.

Por ser atleta vão lhe cobrar resultados e quanto mais estiver em evidência maior será o eco das vozes querendo ver seu sucesso ou fracasso. O boxe é o mais cruel dos esportes principalmente no momento das derrotas e em países sem cultura pugilística os campeões são esquecidos.

O mitólogo americano Joseph Campbell autor de A Jornada do Herói (1990) em sua entrevista ao jornalista Bill Moyers que resultou no livro O Poder do Mito (1988) explica: “uma das muitas distinções entre a celebridade e o herói é que um vive apenas para si, enquanto o outro age para redimir a sociedade. Objetivo último da busca não será nem evasão nem êxtase, para si mesmo, mas a conquista da sabedoria e do poder para servir aos outros”.