Anderson Silva e Washington Silva (Foto: Arquivo Pessoal)
Na paupérrima Cruz das Almas, no interior baiano, que também
deu origem ao campeão mundial Sertão, Washington Silva ensaiou suas primeiras
esquivas e punchs e então migrou para São Paulo como tantos de sua terra. No
popular Corinthians disputou sua primeira competição em 1998. Ele não imaginava
que teria suas digitais num título mundial de boxe amador e nos punhos mais
certeiros do MMA.
Washington Silva prestou inúmeros serviços ao Brasil,
participou de duas olímpiadas (Atenas 2004 e Pequim 2008), dois mundiais (2005
e 2007), dois Pan-Americanos (2003 e 2007) e dois sul-americanos (2002 e 2010)
além de ter sido convidado a disputar pela primeira vez uma Copa do Mundo
devido ao seu currículo, fato inédito para o país.
No histórico do pugilista baiano de pele queimada não
constam apenas passagens internacionais, mas também os títulos como uma medalha
de bronze em Jogos Sul-americanos (2002), campeão pré-pan-americano (2003),
pré-olímpico (2003), brasileiro (2003), tricampeão paulista (2003, 2004 e 2005)
e outros.
Os resultados podem não brilhar como os cubanos, americanos
e membros de outras potencias, mas “um campeão não é feito em curto espaço de
tempo, 6 anos por exemplo ainda é considerado um prazo mediano para preparar um
pugilista”, lembra o boxeador.
O campeão mundial de 2011 da categoria meio-médio ligeiro
(64 kg) também passou por processo semelhante. Como Pátroclo admirava
Aquiles, Everton Lopes teve sua inspiração para boxear em Washington ao
assisti-lo trocando golpes em uma transmissão da TV Globo e este ano se tornou
dono do mundo no Azerbaijão.
Pedro Lima (calção azul), Washington (preto), Everton Lopes (calção vermelho) e Robenílson de Jesus (camiseta verde musgo) / (Foto: Arquivo Pessoal)
“Ele resolveu deixar o futebol pelo boxe e veio para Santo
André onde eu morava e ao conhecê-lo começamos uma amizade, ele é meu
parceirinho, aprendeu comigo naquela época e onde quer que esteja reconhece
isso e sempre fala de mim nas entrevistas”, lembra com carinho daqueles tempos
Washington. “Sempre que nos encontramos dou conselhos e ele escuta. Continua
falando que é meu fã, mas quem é fã aqui sou eu”.
Não bastasse inspirar o jovem que trouxe um título inédito
ao Brasil, Washington ainda anda com outro grande deste país, um lutador que
virou figura comum nos veículos de comunicação de grande apelo, algo ainda
difícil pra quem pratica MMA. Anderson Silva quando está no CT do Corinthians
afia o boxe com o baiano que parece um herói dos livros de Jorge Amado.
Anderson passou pelo Corinthians brevemente entre 1996 e
1997 e Washington 4 anos depois foi disputar uma competição no Rio e se
hospedou na casa do lutador de MMA e também baiano Minotauro e lá conheceu
melhor Anderson que “ainda não era o Anderson Silva de hoje”.
Na residência de Antônio Rodrigo Nogueiro, o Minotauro, Washington
puxou treinos para os lutadores, inclusive Anderson, com isso nasceu um
respeito mútuo e a amizade. Quanto o clube alvi-negro paulistano montou um
centro de lutas o professor de boxe Luiz Carlos Dorea, principal nome da
modalidade na Bahia, indicou Washington para Anderson e a amizade facilitou seu
ingresso que o deixa feliz: “afinal, além de tudo sou corinthiano”.