terça-feira, 7 de agosto de 2012

Carlos Monzón, o apaixonante anti-herói das matinés

Carlos Monzón / (foto: reprodução)

"Carlos Monzon não era um daqueles manequins com um nariz que se pode pendurar seu chapéu, na verdade, ele tinha o jeito discreto de um ídolo de matinés, daqueles com sobrancelhas delicadas, nenhuma marca no rosto e um corpo trabalhado que poderia servir de modelo para fotos de homens "colírios" em revistas de garotas. E ele lutava da mesma maneira, com uma suavidade e frieza de gelo derretendo, seu estilo era um cruzamento de agressividade cautelosa e cautela agressiva. Com uma longa direita arremessada por garantia", assim o jornalista americano Bert Sugar (1937-2012) define o pugilista argentino Carlos Monzón (1942-1995) em seu livro The 100 Greatest Boxers of All Time (1984). O sul-americano completaria hoje 70 anos.

"Monzon, quem é você?" indagava o jornal italiano Corriere dello Sport quando o campeão sul-americano dono do calção com a inscrição "Fernet Branca" desafiou o italiano Nino Benevenuti pelo cinturão mundial em posse do europeu. O embate foi no Palazzetto dello Sport, em Roma, Lazio, no país do rival, em 1970.

Carlos Monzón (esq.) e Amilcar Brusa (dir.) / (foto: reprodução)

Monzón subiu ao ringue como azarão nas apostas em 3-1, e respondeu a pergunta dos cronistas esportivos europeus e dos apostadores da forma que sabia e já conhecida pelo povo sul-americano, com seus ágeis e elegantes punhos.

Conquistou o trono dos médios da Associação Mundial de Boxe (AMB) e Conselho Mundial de Boxe (CMB) além de luta do ano pela bíblia do boxe Ring Magazine com um golpe no queixo do pugilista residente e a audiência se fechou em silêncio e espanto.

Antes dessa noite tivera duras provações na carreira, tendo perdido três combates, um deles para o espanhol radicado brasileiro Felipe Cambeiro. Todos revezes foram vingados de forma que Monzón se tornou um dos principais nomes da região sul do continente americano.

"Monzon, quem é você?" - Corriere dello Sport

"Monzón é o lutador completo. Consegue boxear, consegue bater pesado, consegue pensar e é jogo pra qualquer hora", declarou Angelo Dundee após o argentino bater José "Mantequilla" Nápoles em fevereiro de 1974 em apenas seis rounds valendo suas coroas.

Nos ringues o reinado durou 7 anos e 14 defesas, Benvenuti em revanche perdeu por nocaute técnico no terceiro round e além do italiano e de Nápoles grandes nomes não resistiram à força inteligente do argentino como o americano Emile Griffith e o colombiano Rodrigo Valdéz, este só conseguiu a coroa após o rei deixar o trono em 1977.

Carlos Monzón no lançamento de El Macho em setembro de 1977 em Paris, França / (foto: reprodução)

Enquanto mantinha o sucesso no ringue e as señoritas na alcova estrelou La Mary (1974), película de seu país dirigida pelo franco-argentino Daniel Tinayre. Depois veio El Macho (1977), um western-spaghetti. A vida de estrela era diferente do início humilde no tradicional Luna Park ao lado do técnico, maestro e mentor Don Amilcar Brusa (1922-2011).

O apelido Escopeta servia pelo estrago que fazia nos tablados, mas também pode aludir a vida louca e barulhenta que tinha fora deles. A personificação do amante latino e do macho sul-americano, Monzón teve quatro esposas e muitas companheiras, mulheres da Sociedade do Espetáculo. A maioria o acusou de violência doméstica. Também agrediu um paparazzi.

"Cuatro veces me casé y cuatro veces me equivoqué. Nunca tendría que haberme casado", disse Monzón sobre sua vida amorosa. Foi amigo de Mickey Rourke e Alain Deloin, mas acabou deixando falsas amizades se aproximar, uma delas o álcool em excesso.

Destrutivo como um tiro de calibre 12

Após o sucesso nos ringues, a vida pessoal há tempos amargava em knockdowns. A esposa Susana Giménez o deixou em 1978, na época era atriz e co-estrelou La Mary, hoje é uma das principais celebridades do país portenho e apresentadora de talk-show. Os casos de violência no lar dos Monzón já era público.

O célebre ex-pugilista se uniria a modelo uruguaia Alicia Muñiz um ano depois. Seus demônios o consumiram mais uma vez, os casos de espancamentos eram conhecidos pelos fãs argentinos, muitos relevavam por ser alguém que lhes trouxe diversas alegrias e esperavam que um dia abdicasse deste comportamento.

O corpo de Alicia foi arremessado do segundo andar do resort em Mar del Plata que passavam as férias em 1988. Após uma discussão Monzón a agrediu, estrangulou e a atirou pela sacada. No ano seguinte foi condenado à 11 anos de cárcere. Para o povo era "campeón", para a Lei e Justiça "asesino".

O lendário pugilista recebera um final de semana de indulto para visitar sua família e filhos, porém sua história foi interrompida antes do momento de redenção. No dia 8 de janeiro de 1995, enquanto dirigia para o encontro de seus amados, sofreu acidente automobilístico fatal.


Carlos Monzón / (foto: reprodução)

"Dale Campeón" (Vá Campeão), cantou uma multidão no funeral do ídolo argentino e um dos maiores lutadores de todos os tempos. Monzón deixa um legado em filmes, videogames, fotos, livros e outras fontes com 87 vitórias, sendo 59 por nocaute, 3 derrotas e 9 empates. Foi um pugilista de um período mais árduo e de um jogo mais honesto. Um confuso, mas amado herói de matinés da vida real que viveu à sua maneira. 

Funeral de Carlos Monzón em 1995 / (foto: reprodução)