quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Entrevista com Roseli Feitosa

Roseli Feitosa / (foto: COB Festa / Gabriele Lomba / Globoesporte.com)

Roseli Feitosa, 23, já conheceu os pontos alto e o baixo na carreira de pugilista amadora, foi campeã mundial amador meio-pesado (81 kg) em Bridgetown, Barbados no ano de 2010, e medalha de bronze no Pan de Guadalajara no México no ano seguinte como peso médio (75 kg).

Nesta temporada não conseguiu uma vitória ainda, foi para os Jogos Olímpicos por conta da classificação de sua rival no Pré-Olímpico Elena Vystropova do Azerbaijão que cresceu na competição e lhe abriu uma das vagas destinadas ao continente americano. Em Londres perdeu para a chinesa Jinzi Li.

No ano passado teve uma ruptura no convívio com o técnico da seleção Claudio Aires e se entendeu com o mesmo no começo desta temporada. Em entrevista ao Córner do Leão, Roseli fala de seu começo na modalidade, a conquista do mundial e atual fase que vive no esporte.


Como foi a transição do vôlei para o boxe?

Joguei vôlei durante quatro anos, era atleta federada, fui levantadora, porém sai do vôlei para trabalhar e ajudar minha mãe. Eu trabalhava e estudava. Praticava musculação em uma academia de bairro, lá conheci o Muay Thai e comecei a namorar com o mestre que dava aula nessa academia, hoje em dia ele é meu marido. Comecei a gostar de lutas e um dia estava desempregada e para não ficar em casa sem fazer nada resolvi praticar boxe para perder peso e também aprender a me defender em alguma situação de briga, assalto, violência...

Quais são as qualidades de Álvaro Aguiar como técnico e quais evoluções você teve trabalhando com ele?

Álvaro foi um excelente atleta e é um excelente técnico, muito dedicado e inteligente, mas não treinei muito tempo com ele, foram alguns meses apenas e isso após o mundial de 2010. Ele me ajudou muito, mas não conseguimos finalizar o treinamento que ele tinha planejado para mim. Pelo pouco tempo que trabalhamos juntos, eu consegui melhorar a força e aperfeiçoar os golpes.

O que você sentiu antes da final do mundial de 2010?

O Mundial para mim era uma coisa impossível e por muito pouco eu não teria participado, porque eu queria ir na categoria 75 kg, pois tinha acabado de vencer o brasileiro dela. Mas acabei indo na 81 kg, fui com muito medo porque a mão vem mais pesada (risos)... Mas Deus me deu forças para sair de lá com a vitória, eu não acreditava que após passar por muitas coisas, eu estava ali na final de um Mundial. Fiquei muito nervosa, mas eu pensei muito em Deus e que era uma coisa que eu sempre sonhei, então aquele era o momento de realizar meu sonho.

"A Samsung até quis fazer um patrocínio individual para mim, para David e para Everton (Lopes, campeão mundial peso leve de 2011), mas por algum motivo não deu certo!"

Você ganhou prêmio de melhor atleta do boxe pelo COB, apareceu em matérias televisivas. O que mudou de fato após o título e o que foi mantido?

Olha... Após o título não mudou praticamente nada (risos)... Mas tenho que agradecer muito à Deus, porque após o meu título mundial e também o mundial e as olimpíadas do David Lourenço veio o patrocínio da Petrobras para a seleção, então a benção veio para todos os atletas. Mas para mim Roseli Feitosa, não veio nenhum reconhecimento financeiro pela medalha e nenhum patrocínio individual. A Samsung até quis fazer um patrocínio individual para mim, para David e para Everton (Lopes, campeão mundial peso leve de 2011), mas por algum motivo não deu certo!

"... porque após o meu título mundial e também o mundial e as olimpíadas do David Lourenço veio o patrocínio da Petrobras para a seleção, então a benção veio para todos os atletas"

No mundial deste ano e nos Jogos Olímpicos você não obteve vitórias. Como explica este resultado?

Eu não sei explicar o por quê de tantas derrotas, até porque se eu soubesse já teria encontrado uma solução para este problema. Esse ano eu treinei muito, me dediquei bastante, diferente do ano passado que eu treinei, mas faltei um pouco e não me foquei tanto quanto este ano de 2012. Eu estou em luto ainda, pois em dezembro de 2011, perdi meu irmão Rodrigo de 19 anos em um acidente de moto. Talvez isso seja um dos motivos. Mas me sinto muito forte e creio que isso não seja a justificativa correta. Creio que não era pra ser mesmo.

Apesar que eu sinto muita falta de um técnico só para mim, que sempre fique do meu lado e que me passe a confiança necessária para lutar, que entre na minha mente em uma luta e me motive a virar um combate... Eu tive dois técnicos assim, os quais me ajudaram muito, um foi o Luis Cardoso o outro o Neilson Braga. Sinto Falta disso, de alguém que me ajude dessa forma com o qual me identifique de verdade!

Descer de categoria afetou seu rendimento?

Não porque eu já lutava no 75 kg. Mas algumas vezes eu subia de peso, então eu variava as categorias, isso não me afetou.

Em outubro de 2011 você e Claudio Aires tiveram um desentendimento e voltaram a se falar em fevereiro deste ano visando os Jogos de Londres. E agora como está a relação?

A relação teve que ser melhorada ou então era melhor eu sair da seleção. Porque seria impossível estar brigada com alguém nos treinos, viajando junto e lutando. Ainda mais sabendo que essa pessoa estará no seu córner, mas é cada um na sua, temos de ser profissionais e nada mais.