domingo, 5 de agosto de 2012

Roy Jones Jr. revela à mídia americana não acompanhar boxe olímpico por repulsa

Roy Jones Jr. (esq.) e Park Si-Hun (dir.) / (foto: reprodução)

Para legenda do boxe, há árbitros e jurados corruptos

Roy Jones Jr., 43, revelou ao jornal americano USA Today não acompanhar o pugilismo nas Olimpíadas por razão da atuação dos árbitros e jurados. O próprio foi um dos maiores prejudicados por tal postura quando em 1988 participou dos Jogos de Seul na Coréia do Sul.

Na final dos Jogos de 1988 ficou com a prata após resultado das papeletas favorecerem o sul-coreano Park Si-Hun por 3 a 2, porém acertou 86 golpes contra 32 do asiático. Depois deste episódio a AIBA estudou a implementação do sistema de pontuação eletrônica e entrou com ela nos jogos de Barcelona 1992.

"Quando erraram comigo, ao invés de encarar a realidade e mudar o que era necessário, eles apenas deram a volta no verdadeiro problema", declarou Jones ao jornal por meio de um telefonema. "Eles criaram um problema que não havia, não era sobre o sistema de pontuação!".

"Quando mudaram a forma de pontuar, eu deixei (de assistir). Eu disse: 'chega'. O sistema de pontuação é ridículo. Por isto que não assisto. Estou chateado com isso".

Jones Jr. (56-8-0, 40 KO's), campeão em diversas categorias e considerado o melhor dos anos 1990, fez um exame dos pontos que ao seu ver afastaram a transmissão e patrocínio do boxe olímpico em seu país para o USA Today.

"Boxe segue ladeira abaixo, arruinaram a integridade do esporte. Era um plano calculado (conceder a medalha ao sul-coreano). Fizeram algo negativo ao nosso esporte. Mas então não tentaram corrigir. Pontuação não era o problema, mas sim árbitros e jurados corruptos. Se tivessem feito o que deveriam ter feito não teríamos este problema hoje".

As mudanças no sistema de pontuação surgiram após o fiasco envolvendo Jones Jr. O Comitê Olímpico Internacional exigiu melhorias ou senão extinguiria a nobre arte da maior competição esportiva da história. USA Today ressalta que o boxe olímpico é um dos mais citados quando se debate corrupção envolvendo medalhas.

Nesta edição dos jogos o americano Errol Spence Jr. perdeu para o indiano Krishan Vikas por 13-11 na sexta-feira, mas a decisão foi revertida pela manhã de sábado logo após apelação da delegação dos EUA. A AIBA definiu que Spence deveria receber 4 pontos adicionais lhe conferindo a vitória por 15 a 13. A instituição apontou que Vikas deveria ser advertido ao menos duas vezes e cometeu 9 faltas no 3º round.

Jones acredita que é possível eliminar os árbitros corruptos que para ele são o maior problema. Na manhã de hoje a mosca Érica Matos perdeu seu combate diante da venezuelana Karlha Magliocco por 15 a 14, que lhe desferiu diversas vezes golpes contra a nuca. "Suspenda-os uma vez", se forem pegos cometendo contravenções, é a opinião de Jones Jr., "mas se forem pegos outra vez em escândalos devem ser banidos por toda vida".

Outro embate que chamou atenção do público geral foi entre o japonês Satoshi Shimizu e Magomed Abdulhamidov do Azerbaijão que bateu o rival por 20-17 mesmo após ter sofrido três quedas no último round.

A AIBA expulsou o árbitro Ishanguly Meretnyyazov do Turcomenistão por este não contabilizar as quedas que o deveriam tê-lo feito interromper o embate. Isso levanta suspeita de interesses externos ao jornal. A AIBA também demitiu um jurado.

O USA Today recorda que em 2011 a rede britânica BBC reportou que o Azerbaijão, sede do mundial daquele ano "emprestou" a AIBA a enorme quantia de US$ 10 milhões. "O retorno: duas medalhas olímpicas no boxe, reporta a BBC", aponta o USA Today. Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional, exigiu que a rede de comunicação inglesa apresentasse provas.

Esta semana ainda, a AIBA suspendeu um árbitro alemão por 5 dias após ele aparentemente desclassificar o pesado iraniano Ali Mazaheri que gritou "esquema" após a punição. "Foi tudo esquematizado", falou Mazaheri sobre seu embate aos repórteres.

Mesmo assim na sexta-feira o COI declarou estar "satisfeito" com a maneira que a AIBA vem lidando com possíveis problemas envolvendo corrupção. "Eles tem feito seu trabalho de forma transparente", declarou o porta-voz do COI Mark Adams. "Não é possível fazer esquemas com uma medalha de ouro".

Jones Jr. discorda. Após uma década de sua participação nos Jogos Olímpicos, o COI investigou que oficiais sul-coreanos subornaram todos os três jurados. "Jones nunca recebeu sua medalha de ouro, porque o COI manteve a decisão oficial da luta", aponta o USA.

"Eu ainda me importo (com a medalha), porque para mim, qual é a utilidade de se ter um sistema judiciário se não vai usá-lo?", declara Jones. Até hoje o americano não se lembra ao certo onde está sua medalha de prata.

Para o repórter Jon Saraceno do USA Today, são três os fatores que prejudicam o pugilismo olímpico: incompetência dos jurados, em menor grau corrupção e por último o mais problemático, um sistema complexo de pontuação que leva à injustiças como na quinta-feira contra o superpesado cubano Erislandy Savón.

O sobrinho de 22 anos do medalhista de ouro Félix Savón aparentou ter superado o britânico Anthony Joshua, mas perdeu por 17-16. Robson Conceição do Brasil foi prejudicado no 2º assalto conforme os comentaristas do Brasil na transmissão, nomes como Washington Silva, Gabriel de Oliveira e Newton Campos.

O técnico italiano Francesco Damiani, com experiência no boxe amador e profissional e tendo disputado os Jogos de Moscou 1980 como atleta e superado o lendário Teófilo Stevenson de Cuba no mundial de 1982 vê problemas no sistema atual.

"O primeiro problema é o sistema de pontuação", disse por meio de um intérprete após ver seu mosca perder por 17-16 para Tugstsogt Nyambayar da Mongólia. "Tire as máquinas e volte logo aos jurados (sistema original)", após apontou: "retire o capacete. Sem isto você pode ver o boxear, a proteção os esconde". "Não é só o número de socos, deveriam contar a qualidade - força - deles".

Ao que tudo indica o sistema computadorizado será derrubado nos Jogos do Rio em 2016, outras possibilidades estudas são: avaliar os combates ao estilo do boxe profissional e banir o capacete sendo assim liberando a participação de boxeadores profissionais.

Enquanto isto, Roy Jones Jr. seguirá com seu boicote, ou seja, não assistirá ao boxe nos Jogos Olímpicos.

Fontes: USA Today e BBC