terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Entrevista com Raphael Zumbano

Raphael Zumbano / (Foto: Arquivo Pessoal)

Raphael Zumbano, 30, está em sua segunda passagem por Las Vegas com o intuito de treinar e aprimorar seu boxe que já o fez ser campeão latino dos pesados pela Organização Mundial de Boxe (OMB). Antes dos E.U.A também já trabalhou na Alemanha com o boxeador Luan Krasniqi.

Nesta entrevista o neto de Ralph Zumbano e último membro da dinastia Zumbano Jofre a subir nos ringues fala sobre o período na cidade dos jogos aonde treina com o ex-campeão mundial de MMA pelo UFC Vitor Belfort, o trabalho com o técnico Gabriel de Oliveira e a busca por uma luta diante do lendário Evander Holyfield.


Como você define hoje a vida de um atleta profissional de boxe?

É uma vida dura, como a de qualquer pessoa que se dedica ao esporte, principalmente no esporte individual, especificamente o boxe, em cima do ringue, só existem 3 pessoas, você, seu adversário, que deseja o mesmo ou mais que você, e o árbitro, que está lá para fazer cumprir as regras, por isso todos os dias devem ser muito bem planejados, todos os aspectos devem ser levados em consideração e a rotina de um atleta deve ser muito respeitada, pois tudo aquilo que ele faz antes de uma luta, é o que vai refletir em no do quadrilátero. É muito bom ser um atleta, seja ele amador ou profissional, mas um atleta profissional, o nome mesmo já diz, é a sua profissão, por isso tem que ser feito tudo da melhor maneira possível. Infelizmente no Brasil hoje em dia, poucas classes de atleta  seja amador ou profissional tem a melhor estrutura, no nosso caso especifico, o boxe, o Brasil tem muitos talentos, mas tem muito pouco investimento, talvez por isso, tenhamos um número inferior do que o esporte merece de praticantes com objetivos de competição, aqui nos E.U.A., não posso dizer que é mais fácil a vida de um atleta, na parte de treinamentos, preparações e lutas, a diferença toda está em sua base, desde de cedo, as crianças são levadas aos ginásios esportivos pelos próprios pais e começam a pegar o gosto pela prática desportiva e outro ponto muito favorável aqui, é que se tem o apoio e o investimento, por este motivo, é muito fácil você chegar em um ginásio qualquer de boxe e cruzar com algum campeão ou ex campeão mundial, a diferença é que como a quantidade é muito grande aqui, se torna mais fácil achar qualidades e é aí que se diferencia do Brasil, aqui é possível eu treinar com pessoas do meu peso e de todo tipo de qualidade, destro, canhoto, alto, baixo e isto é algo que no Brasil eu não tinha. Aqui nos EUA, as crianças já participam muito cedo de competições e sabem que se dedicarem lá na frente podem conseguir uma boa bolsa de estudos em universidades, ou seja, aqui além do sonho de se tornar um atleta elas tem incentivos para a prática esportiva, eu espero que um dia o Brasil acorde para isso, por que quando acordar, com toda certeza do mundo, seremos uma potencia mundial e teremos uma sociedade muito melhor! Por que além de tudo o esporte educa.

O que representou sua ida para Las Vegas?

Representou a continuação de um sonho, infelizmente no Brasil, não tinha mais para onde ir, graças ao apoio de algumas pessoas ligadas ao boxe nacional como (Antonio) Bernardo, Tony Auad, (Adimilson Cruz) Lalá, alguns apoiadores e ao meu esforço próprio, junto com minha equipe técnica, consegui chegar em número 13º do mundo numa das 4 grandes entidades mundiais do boxe a WBO (World Boxing Organisation), durante quase 1 ano, fui o único sulamericano peso pesado, classificado entre os 15 melhores do mundo, nas 4 grandes entidades mundiais, no Brasil o que me impossibilitou de continuar, foram os altos custos de minhas lutas, para se ter idéia, uma luta minha já estava chegando em valores impossíveis de conseguir, isso ficou impraticavel, ou eu parava ou eu tentava outra coisa, foi exatamente o que fiz, deixei meus amigos, família, namorada e principalmente meu filho que é meu maior tesouro, para realizar um sonho que sei que o realizarei.

Como é ser colega de treinos de Vitor Belfort?

Para mim é um grande prazer e uma grande honra, estar treinando ao lado de um cara como o Vitor, além de ser um vencedor no esporte, mundialmente conhecido e respeitado, ele é um cara família, educado, atencioso e está sempre disposto a ajudar, nestes 2 meses que treinamos juntos, eu aprendi muitas coisas com ele, inclusive no boxe, ele tem um excelente jogo, principalmente por não ser sua base original.

No que você o ajudou exatamente a se preparar para a luta com Anthony Johnson?

O ajudei na parte técnica do boxe, fazendo escolas de combate e sparrings de boxe com o Vitor, tem um video circulando na internet, onde aparecem algumas cenas de nossos treinamentos, neste vídeo, eu estou simulando o jogo do Johnson, tudo isso monitorado e solicitado por ele e por nosso técnico de boxe Gabriel de Oliveira. Para mim Vitor ganha por nocaute com um direto de esquerda, ou abre caminho para vitória desta maneira, o resto é segredo de treinamento (risos).

Como foi trabalhar com o técnico de boxe Gabriel de Oliveira que esteve no mesmo CT?

Trabalhar com o Gabriel, é sempre muito bom e muito prazeroso, ele já havia sido meu treinador no passado, quando eu fazia parte da equipe olimpica permanente da seleção brasileira na época de amadorismo, isso tudo facilitou e muito nosso trabalho, pois nós já nos conheciamos e além de tudo somos e sempre fomos, muito amigos. Para mim o Gabriel é sem duvida nenhuma um dos melhores treinadores de boxe que eu já trabalhei e espero que ele volte logo para Vegas, pois temos muitas coisas a fazer ainda.


"... sei que esta é um evento (luta com Evander Holyfield) no qual eu e o boxe do Brasil estaremos na vitrine do mundo, depois dela, tudo será diferente para mim e para o boxe brasileiro e tenho certeza que será para muito melhor". - Raphael Zumbano.


Há semanas você postou no seu canal de youtube um vídeo seu numa banheira de gelo. Já havia feito algo assim pós-treino? No que ajuda?

Só de falar nisso e lembrar sinto frio novamente (risos). É verdade a banheirea de gelo, conforme o póprio fisioterapeuta Rodrigo Salvitti diz no vídeo, tem a função de tirar todas as toxinas dos músculos, dando melhores condições para limpar o corpo e até mesmo por ser uma fisioterapia preventiva, para isso tinha que ficar 12 minutos dentro desta banheira, esta foi a primeira vez que eu vi e fiz este tratamento e andando em outras academias aqui e falando com pessoas do esporte, pude perceber que é normal este trabalho e muito valioso, ele te relaxa muito, é maravilhoso, pode parecer loucura ficar numa banheira de gelo por 12 minutos, com uma temperatura seguramente muito abaixo de 0 graus e dizer que é maravilhoso, mas depois que você faz e sente o efeito, você percebe que de fato existem loucuras boas (risos).

Já havia visto estrutura como a de Belfort?

Dentro do MMA, esta é apenas minha segunda participação num "camp" como este para uma luta tão importante, no passado, fui convidado e fiz parte da equipe de preparação do Rodrigo "Minotauro" Nogueira, no Rio de janeiro, ao lado de grandes nomes como o atual campeão do UFC Peso Pesado, o Junior Cigano, o campeao do UFC Anderson Silva ainda junto com os lutadores da agremiação Fábio Maldonado, Rogério "Minotouro" Nogueira que é irmão de Minotauro, Rodrigo Artilheiro e outros de muito talento. Quando Minotauro se preparava para enfrentar Tim Sylva e graças a Deus e ao trabalho de toda equipe, ganhou a luta e agora com o Vitor - então não tenho muita base para dizer -, mas ao meu ver não podia ser mais bem feito o trabalho aqui em Vegas, para que o Vitor saia com a vitória. Belfort teve tudo para fazer uma excelente preparação, tinha Fisioterapeuta, médico, dentista, protético para fazer protetor bucal ideal para sua mordida, preparador físico, treinadores de diversas modalidades, sparrings de diversas modalidades e estilos, nutricionistas, enfim como ele mesmo diz no vídeo e me deixou muito feliz e honrado: "eu treino com os melhores, para ser o melhor" e eu fiz parte deste treino.

Muito tempo se passou desde que sua equipe e você apontaram que lutariam com Evander Holyfield. O que pode dizer sobre este combate e suas negociações?

O que posso dizer é o mesmo que sempre disse, desde que este assunto iniciou, a intenção da luta e as negociações existem e são verdadeiras, só que uma luta como esta, não é fácil realizar, muito menos num país como o nosso, que tem pouco, praticamente zero de incentivo, a quanto tempo não temos um canal aberto de televisão transmitindo boxe, ao vivo ou mesmo gravado, tudo isso dificulta, mas tenho muita fé que esta luta sairá e apartir daí, teremos uma nova trajetória para o boxe brasileiro, pois o evento que esta sendo planejado e as lutas que estão sendo programadas não deixará nada a desejar para nenhum evento internacional e olha que eu já vi ou lutei nos maiores eventos de boxe do mundo, agora o que me resta é seguir o que venho fazendo e me preparar para quando esta luta sair eu estar muito preparado para enfrenta-lo e vence-lo, pois não será nada fácil, mesmo ele estando com 49 anos de idade e eu com 30, eu era apenas uma criança e o Holyfield já era campeão do mundo, por isso todo cuidado nesta luta é pouco e sei que esta é um evento no qual eu e o boxe do Brasil estaremos na vitrine do mundo, depois dela, tudo será diferente para mim e para o boxe brasileiro e tenho certeza que será para muito melhor.

Raphael Zumbano / (Foto: Divulgação)