segunda-feira, 4 de junho de 2012

Superação na água e nos ringues

Mara Gabrilli (esq.) e Renata Certain (dir.) em 2009 / (Foto: divulgação)

"A Renata Certain é uma amostra linda de que as pessoas com Síndrome de Down têm potencial para crescer e ocupar as mais variadas áreas na sociedade, inclusive, carregar a responsabilidade de um posto de atleta, que exige garra, disciplina e determinação. Ela tem tudo isso e muito mais, pois transpira a superação todos os dias", afirma a deputada Mara Gabrilli (PSDB) sobre a atleta paraolímpica Renata Maria Fragoso Certain.

Gabrilli era vereadora de São Paulo em 2009 e prestou homenagem à Renata em 12 de março, “Dia Internacional da Mulher”, no Plenário Primeiro de Maio.

Renatinha, 35, como é chamada pelos amigos próximos, é nadadora paraolímpica desde os 12 anos conquistando medalhas em nosso país assim como Polônia, Espanha, México, Portugal e República Tcheca.

Além dos anos na piscina dia 29 de março subiu no ringue de boxe da Needs Academia para uma luta especial de boxe no torneio interno da academia Needs em São Paulo e venceu a rival por abandono.

Das 6h15 às 7h45 de segunda, quarta e sexta, Renata treina Natação no Centro Olímpico do Ibirapuera com a técnica Fernanda Figueiredo, o boxe é treinado por uma hora a uma hora e meia nas terças e quintas com Antonio Gomes Pereira na Needs na qual também prepara seu corpo com sessões de exercícios de musculação e de condicionamento físico nas terças e quintas por aproximadamente uma hora com os professores Rafael Nasraui e Marcio Acoaviva.

“Ela tem como característica buscar novos desafios e possui alto índice de aproveitamento”, relata Acoaviva. Desde 1996 o pódio acabou se tornando lugar-comum para a garota assim como prêmios de melhor atleta e o fato de quebrar recordes das piscinas.

A moça com Síndrome de Down sente que o esporte trabalha sua autoestima. A Needs tem um ambiente leve com paredes em tons claros, e uma decoração junto com aparelhos para atender as classes abastadas.

O cenário se torna mais colorido quando Renatinha entra, os sorrisos saem com maior facilidade e mais dóceis, não apenas para ela. A moça que enxerga no esporte uma valorização de sua autoestima parece ajudar na de seus colegas.

O professor de pugilismo Antonio Gomes Pereira, também conhecido como “Tony Boxe”, aponta que até o seu humor ficou melhor ao trabalhar com Renata e que aprendeu muito na convivência. O treino de Renatinha visa suas necessidades.

“Nosso mestre é um em um milhão”, descreve a aluna Samantha Salles, colega corinthiana que gosta de brincar que convencerá a são-paulina Renata a abandonar o clube do Morumbi pelo time que tem Sócrates como um de seus heróis.

Renata Certain (centro) / (Foto: Equipe Tony Boxe)

Quando é perguntada sobre seus amigos, Renata se esforça e lembra o nome de alguns, outros sopram no seu ouvido ou falam “ué, já esqueceu de mim”. Os nomes surgem como na apresentação de um elenco: “Marcia Gusmão, Paola Iasbeck, Patrick Djehdian”, também lembra de Rodrigo Cabral lutador amador de competições de boxe nas quais já se tornou campeão.

Na academia a menina que levou um tempo para se entrosar hoje é vista brincando com colegas, porém avisa: “no ringue sou séria”. Gosta de aplicar ganchos e sequências de diretos de esquerda e direita. No mundo das lutas admira o lutador de MMA Daniel Sarafian, também frequentador da Needs e presente no reality show TUFThe Ultimate Fighter – exibido pela Rede Globo.

Os seus principais adversários não estão nos ringues e nem nas piscinas tampouco é o Down, mas sim o preconceito velado que ela percebe. “Precisariam conviver comigo para me conhecer melhor”, avalia.

O Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) aponta que há 300 mil pessoas com Síndrome de Down no Brasil. Os portadores devem passar por uma terapia que envolve profissionais da Psicologia, Fisioterapia e Fonoaudiologia. A educação deve ser como qualquer outra pessoa até a fase de alfabetização.

A Síndrome de Down (SD) foi descrita por John Langdon Down em 1986, o médico inglês descreveu as características de seus portadores e o quadro acabou sendo batizado com seu nome.

O médico francês Jérôme Lejeune em 1958 descobriu que uma cópia extra do cromossoma 21 é o causador da síndrome. Os portadores têm 47 cromossomos e não 46. O extra é ligado ao par 21 dos cromossomos.

Na boutique de luxo Daslu, Renata trabalha como auxiliar de escritório desde 2003 das 13 às 17 horas de segunda à sexta. Antes já passara pelas empresas Johnson & Johnson, especializada em farmacêuticos e utensílios médicos e também deu expediente na firma de arquitetura Lockwood, Greene & Co.

As responsabilidades de Renata Certain são grandes assim como os locais pelos quais passa no meio profissional e nos quais se apresenta como atleta. Talvez ela nem perceba, mas é peça fundamental para romper com preconceitos.